A associação entre os dois foi, no futebol português de início do século, uma das uniões mais firmes da bola nacional, um elo de continuidade num cenário cheio de mudanças e alterações. José Mota e Paços de Ferreira andaram de mãos dadas pelos campos do país, com o boné do técnico a transformar-se em imagem de marca do clube pelas salas de imprensa de norte a sul.
Foi assim em 294 partidas, dividas em duas passagens, a primeira de 1999/00 até 2002/03 e a segunda, depois de uma breve incursão no Santa Clara, de 2003/04 a 2007/08. Antes disso já tinham havido quase dez épocas como jogador do Paços, completando um trajeto umbilicalmente ligado aos castores.
Depois de tamanha conexão, os caminhos de ambos separaram-se. José Mota andou no Leixões, no Belenenses, no Vitória de Setúbal, no Gil Vicente, no Feirense, no Aves ou no Chaves, numa espécie de Volta a Portugal em bancos de suplentes.
Agora, mais de 30 anos depois desde a temporada 1987/88 em que o Mota-jogador vestiu pela primeira vez a camisola do clube, os percursos voltam a unir-se: o Paços anunciou que José Mota é o novo treinador da equipa principal.
A nomeação do treinador de 58 anos segue-se ao despedimento de César Peixoto. O treinador de 42 anos, antigo jogador de Benfica ou FC Porto, não resistiu aos maus resultados: na I Liga era penúltimo, com apenas dois pontos conquistados em nove jornadas, e na Taça de Portugal foi uma das vítimas da razia provocada por formações de escalões secundários, caindo perante o Vitória de Setúbal da Liga 3.
Os 405 encontros de José Mota na I Liga conferem-lhe um argumento de experiência difícil de igualar, ainda que tenha passado algumas campanhas mais no segundo escalão. Ainda assim, é de realçar o contraste entre César Peixoto, ainda novato nas andanças dos bancos que quer ter bola e ser protagonista - ainda que com resultados muito aquém do esperado -, e José Mota, velha raposa com abordagens tipicamente mais reativas, menos amante da construção curta e olhando, muitas vezes, para a posse de bola em certas zonas como um risco.
O sofrimento e a ansiedade provocada pela penúltima posição da tabela terá levado os dirigentes do Paços a optarem por uma solução conhecida, que terão considerado fiável. Para evitar a descida e respirar melhor, os castores viram-se para a cara que, talvez, o banco da Mata Real melhor conhece. Veremos se o chapéu de salvador ainda assenta bem a Mota.