Em Portugal joga-se menos do que nas cinco principais ligas europeias e na Liga dos Campeões, mantendo-se os valores em solo nacional constantes ao longo dos últimos anos. Mas, quando as equipas da I Liga disputam a principal prova de clubes do continente, o tempo útil de jogo das suas partidas aumenta.
Estas são algumas das conclusões do sétimo estudo do Portugal Football Observatory. O trabalho do organismo da Federação Portuguesa de Futebol, agora divulgado, tem como objeto o tempo útil de jogo, definido como “aquele em que a bola está em jogo, dentro de campo, ou até que o árbitro por alguma razão o interrompa”.
Os dados recolhidos referem-se às últimas quatro épocas completas, de 2018/19 a 2021/22, comparando a I Liga às cinco principais ligas da UEFA (Espanha, França, Itália, Alemanha e Inglaterra) e à Champions. Foram, também, feitos inquéritos a jogadores, treinadores e árbitros sobre o tema.
Assim, ao longo do período analisado, o tempo útil médio de jogo em Portugal esteve sempre abaixo do verificado lá fora e no principal torneio internacional de clubes. Entre 2018/19 e 2021/22, o valor na I Liga manteve-se estável, variando entre o ponto mais baixo registado, em 2018/19 (48:36 minutos com a bola em ação por encontro) e o mais alto, verificado em 2019/20 (com 49:13 minutos de tempo médio útil).
Por comparação, a segunda competição, entre as analisadas, com menor quantidade de bola em jogo por encontro foi a La Liga, que em 2021/22 teve 51:36 minutos, em média, por partida. Na época transata, Bundesliga, Ligue 1, Série A e Premier League andaram, todas, entre os 52 e os 53 minutos de tempo útil por jogo.
A principal prova continental é, também, aquela em que a bola está mais tempo a rodar. Em valores absolutos, a Liga dos Campeões teve, nas últimas quatro campanhas, sempre mais de 54 minutos de tempo médio útil por partida. Em percentagem, nos duelos da passada Champions o encontro não esteve parado, em média, em 55,6% dos minutos, face aos 50,2% que se verificaram em Portugal em 2021/22.
No entanto, transpondo os dados das equipas da I Liga para a maior prova europeia, vemos que as formações portuguesa têm, na Liga dos Campeões, valores semelhantes ao normal na competição e, portanto, acima do verificado internamente. Entre 2018/19 e 2021/22, os compromissos dos portugueses na Champions tiveram, em média, 56% de tempo útil, por oposição aos 52% que se registam nos duelos dessas mesmas equipas na I Liga.
As diferenças na perceção de árbitros para jogadores
O estudo procurou, também, perceber a ideia que vários protagonistas do futebol têm sobre o tempo útil de jogo. Através de inquéritos, jogadores, treinadores e árbitros no ativo durante a época 2021/22 foram questionados sobre a regularidade com que entendem haver perdas de tempo nos encontros.
Das respostas recolhidas, salta a vista a discrepância nas opiniões de árbitros face às de jogadores e técnicos. Assim, mais de 95% dos juízes entende ser “muito frequente” (49,3%) ou “frequente” (46,2%) o recurso à perda de tempo nos jogos.
Em sentido contrário, 42,8% dos treinadores dizem não ser “nada frequente” pensarem, em caso de resultado positivo, em tardar mais na realização de ações quando o jogo está parado. Quanto aos jogadores, 48,7% acham “pouco frequente” pensar-se em retardar o começo, havendo menos de metade (44,7%) que consideram ser “frequente” ou “muito frequente”.
Quanto às motivações que levam à lentidão em recomeçar a jogar, a maior parte dos jogadores (51,4%) e treinadores (54,8%) diz que é para “perder tempo que acaba por não ser devidamente compensado no final”. A segunda razão mais dita por jogadores (32%) e treinadores (33,6%) é “quebrar o ritmo” dos encontros.
Quanto mais abaixo na tabela, menos tempo útil
Ao contrário do que se poderia pensar, o momento da época não leva a variações no tempo em que a bola está em jogo. O tempo útil médio mantém-se constante do início ao fim das quatro temporadas realizadas.
Um fator em que, efetivamente, há discrepâncias prende-se com a posição das equipas na tabela, havendo mais tempo útil nos jogos que envolvam os primeiros classificados. Ao longo das quatro épocas estudadas, os encontros entre formações que terminaram entre o 1.º e o 9.º lugares tiveram 50:31 minutos de tempo útil jogo (acima da média geral), enquanto jogos entre equipas que terminaram entre o 10.º e o 18.º tiveram 47:23 (abaixo da média geral).
A juntar a isto, nas quatro épocas em análise, os quatro primeiro classificados, em média, ou tiverem sempre maior posse de bola ou se encontram na metade superior do índice do tempo útil médio de jogo, voltando a apontar para a tendência de haver mais tempo útil de jogo no topo da tabela.
Em todo o período analisado, houve sempre a tendência para os minutos úteis irem diminuindo com o decorrer de cada parte dos jogos. Nos primeiros 15 minutos das partidas é quando o tempo útil é maior, chegando aos 56,5% e diminuindo com o passar do tempo.
É no tempo adicional que se verifica menor tempo útil: 43,1% na primeira parte, 45,1% na segunda. Sobre este período, importa referir que o tempo adicional médio em Portugal esteve estável entre 2018/19 (7:35), 2019/20 (8:19) e 2020/21 (7:40), mas deu um grande salto em 2021/22 (9:38), seguindo as indicações dadas para compensar mais os tempos mortos.
A situação de jogo que mais faz cair o tempo útil, em Portugal, é quanto uma vantagem de dois golos, no decorrer da segunda parte, passa a ser apenas de um golo. Aí verifica-se uma quebra média 52,6% de tempo útil médio para 45,1%.