A bola vem rasteira na direção de Matheus Nunes e ele aparenta relaxamento, tem o corpo em modo de espera, em pose de quem aguarda pela chegada do passe. É um engodo. O médio aciona-se, dá um pequeno avanço rumo à bola, planta um pé e serve-se desse apoio para aprontar o arranque com que freneticamente parte em corrida com a receção orientada. E lá vai o jogador a fugir de quem se aproximava com a função de o pressionar e tentar impedir que desse corda às chuteiras no tipo de momento que mais o diferencia.
Nos primeiros 30/40 metros do campo, onde as jogadas se constroem e matutam, Matheus Nunes não é um médio para receber a bola de costas, rodar com ela, ‘esperar’ pelo aperto do adversário, deixá-lo acercar e, aí, decidir o passe, já com ele fixado. Ele não era pausa no jogo do Sporting, era o botão de fast-forward: pela agilidade e potência a mudar de velocidade, tem condições incomuns que lhe moldaram a ter um estilo de jogo vertical e de muitas acelerações com a bola no pé como solução preferencial para ultrapassar adversários.
Foi isso que a equipa perdeu quando o clube o vendeu.
Não que Matheus seja avesso a tabelar, combinar com pés que joguem com ele ou a engatilhar o desequilíbrio numa jogada ligando passes com companheiros, mas não é isso que o distingue. Nunca foi. O português é um médio com anormal capacidade para desequilibrar, sozinho, quando recebe a bola perfilado para o adversário ou até de costas, rodando sobre si próprio e capaz de sair com a finta tanto para o pé direito, como para o esquerdo. A aptidão para resistir a tentativas de desarme ou de lhe retirarem espaço de ação nas zonas do campo onde se diz estarem as fases de construção - onde as equipas começam a congeminar formas coletivas de levarem a bola até à área dos outros - foi crescendo com o aumento da sua preponderância na equipa.