Futebol internacional

Os filhos, os traumas do passado com o Barcelona, a infelicidade em Paris: as razões para Messi assinar com o Inter Miami

Os filhos, os traumas do passado com o Barcelona, a infelicidade em Paris: as razões para Messi assinar com o Inter Miami
Aitor Alcalde/Getty

Falou-se de um regresso ao Barcelona, de um contrato milionário, nunca antes visto, na Arábia Saudita, mas o futuro de Messi vai passar pelo Inter Miami da MLS. E ele explicou porquê: o bem-estar da família e o não querer passar por outro longo verão foram decisivos

Não houve todo um verão de especulações, de informação e contra-informação. Para onde vai Messi? Vai voltar para o Barcelona, num emotivo regresso à filho pródigo? Irá para a Arábia Saudita que tudo parece querer levar consigo e com os seus intermináveis livros de cheques? Ou cruzará o Atlântico para uma aventura americana na MLS?

Quase a completar 36 anos, Messi não quis mais um verão desatinante. Poucos dias após se confirmar a sua saída do Paris Saint-Germain, com quem terminava contrato, o seu destino foi anunciado. E não sem um cheirinho de surpresa: Lionel Messi será jogador do Inter Miami, equipa da MLS criada há apenas cinco anos por dois empresários locais e David Beckham, e que ainda procura o seu espaço no equilibrado panorama da liga norte-americana de soccer.

Para tal, Messi deixou para trás o coração (Barcelona) e o contrato mais estrondoso alguma vez oferecido a um futebolista - o “El País” diz que o Al-Hilal da Arábia Saudita estaria na disposição de pagar 400 milhões de euros por ano ao jogador. Em Miami, Lionel Messi também não ficará mal de finanças, o “Sport” aponta para um salário na ordem dos 50 milhões de dólares por temporada (um pouco menos em euros) e o argentino ainda receberá fatias dos lucros da Adidas e da Apple, conforme explicou o “The Athletic”. Messi será, de longe, o mais bem pago da MLS: o suíço Xherdan Shaqiri, que era até agora o mais bem remunerado, recebe em torno dos 8 milhões de dólares por época no Chicago Fire.

Mas a ida para os Estados Unidos não foi “por dinheiro”, sublinhou o avançado numa entrevista conjunta ao “Sport” e ao “Mundo Deportivo”, os dois diários catalães que visitaram Messi na sua casa em Paris para receberem o exclusivo do futuro do craque. “Se tivesse sido uma questão de dinheiro, tinha ido para a Arábia ou para outro lado, onde me ofereciam muitíssimo dinheiro”, frisou.

Messi deixou o PSG ao fim de dois anos
Sebastian Frej/MB Media

E então, porque escolheu Messi o Inter Miami? Nas palavras do próprio, pela família, porque nunca se sentiu feliz em Paris e porque, depois do caos do processo de saída de há dois anos, não estava na disposição de esperar mais pelo Barcelona, para onde queria verdadeiramente voltar.

O regresso frustrado ao Barcelona

Primeiro, vamos ao Barcelona. Na entrevista aos dois jornais desportivos catalães, Lionel Messi admitiu que queria regressar ao clube onde é um mito, onde conquistou tudo e de onde saiu praticamente obrigado há dois anos, devido à crise financeira do clube. Há dois anos, a família Messi regressava de Ibiza de férias com tudo pronto para o jogador assinar a renovação de contrato, mas quando aterrou em Barcelona, conta aos jornalistas, tudo mudou: Messi não podia ficar e teria de encontrar um novo clube com a pré-temporada já a decorrer.

O duro processo deixou marcas no jogador. E este ano, nas palavras do mesmo, prometia repetir-se. Mesmo depois da La Liga dar luz verde ao programa de viabilidade financeira do Barcelona, muitas mudanças seriam obrigatórias para Messi voltar. “Tinha muita vontade de regressar. Mas, por outro lado, depois de ter passado o que passei, a saída que tive… não queria passar pelo mesmo outra vez, ter de esperar para ver o que ia acontecer. Não queria deixar o futuro nas mãos de outros”, explicou.

Ao “Sport” e ao “Mundo Deportivo”, Messi revelou que o Barcelona teria de “vender jogadores e baixar o salários a outros” para que pudesse regressar. E o jogador sublinha que não quis ser responsável por tal processo. Messi mencionou ainda que manteve “contacto regular” com Xavi, seu antigo colega e agora treinador do Barcelona: “Estávamos os dois muito esperançosos. Perguntei-lhe se realmente queria que voltasse, se acreditava que ia ser bom para a equipa e para ele”. Já com Joan Laporta, presidente do clube que sempre se arrogou de estar em contacto com o jogador, diz ter falado “muito pouco, uma ou duas vezes nestes últimos dois anos, se tanto”.

Ao contrário do que comunicaria mais tarde o Barcelona, Messi diz que nunca houve “uma proposta formal, escrita, assinada” por parte do clube. E admitiu que não lhe caiu bem quando o Barcelona gastou 55 milhões de euros a contratar Ferran Torres poucos meses após a sua saída.

A família, Paris e a necessidade de tranquilidade

Apesar dos dois títulos franceses conquistados no Paris Saint-Germain, a relação de Messi com o clube e os adeptos nunca foi consensual e o argentino foi mesmo presenteado com assobios das bancadas no último jogo com a equipa.

“Foram dois anos difíceis”, admitiu na entrevista. A chegada a Paris foi desde logo complicada, já que a decisão de ir para o PSG teve de ser tomada em poucos dias. “Estive num hotel imenso tempo com a família. Os meus filhos já estavam na escola e ainda estávamos num hotel”, revelou.

As lágrimas na saída do Barcelona em 2021
PAU BARRENA/Getty

“Tive aquele mês incrível, quando ganhámos o Mundial, mas tirando isso foi uma etapa difícil para mim. Dois anos em que não fui feliz e isso afetou-me a nível familiar, perdi muitas coisas dos meus filhos, da escola deles. Em Barcelona eu conseguia ir levá-los e buscá-los à escola. A minha decisão também passa por, entre aspas, reencontrar-me com a minha família, com os meus filhos”, sublinhou.

Para tal, Barcelona, onde a família irá viver no futuro, quando terminar o futebol para Messi, era a primeira opção. Não acontecendo, é em Miami que Messi espera “encontrar um pouco de tranquilidade”, mais longe dos holofotes, num futebol menos exigente, apesar das longas viagens a que a MLS obriga.

Na conversa com os jornalistas, o avançado assumiu que teve ofertas “de uma outra equipa europeia”, mas que nem a analisou porque na Europa só jogaria no Barcelona. “Depois de ganhar o Mundial e não conseguindo voltar ao Barcelona, era hora de ir para a MLS, para viver o futebol de outra forma e desfrutar mais do dia a dia. Obviamente com a mesma responsabilidade, com vontade de ganhar e fazer bem as coisas. Mas com mais tranquilidade”, explicou.

A possível estreia

No Inter Miami, Lionel Messi poderá reencontrar Gerardo Martino, o técnico argentino que já se cruzou com o astro tanto no Barcelona como na seleção da Argentina. Martino foi campeão da MLS com o Atlanta United, em 2018, e mais recentemente treinou a seleção do México.

Certo, certo é que Messi não poderá colocar a camisola rosa do Inter Miami antes do dia 5 de julho, quando começa a segunda janela de transferências da MLS, campeonato cuja época decorre ao longo do ano civil, com temporada regular entre fevereiro e outubro e playoffs até dezembro.

Ao “The Athletic”, fonte próxima da MLS colocou como hipótese de estreia de Messi o encontro com o Cruz Azul, a 21 de julho, a contar para a Leagues Cup, competição que junta equipas da MLS e da Liga MX, do México. Outra hipótese é Messi jogar apenas na fase regular da MLS. Aí, teríamos de esperar até finais de agosto pela estreia.

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