É um pontapé de baliza, mais um, mera bola à espera de ser chutada lá para a frente. A caminhar com as suas costas largas, quase desengonçado pela própria envergadura, o calmeirão Dida apronta-se na pequena área a batê-lo quando, da bancada erguida atrás da baliza, a gravidade começa a fazer cair garrafas, isqueiros, tochas incandescentes. São vândalos que se dizem adeptos do Inter a arremessarem very lights e já cinco ou seis descansam com a sua fumarada no relvado quando outro acerta nas costas do guarda-redes brasileiro. Ele afasta-se e tomba, levando o jogo por arrasto.
A mentecapta manifestação de fúria atinge o homem das luvas do AC Milan durante a segunda mão dos quartos de final da Liga dos Campeões, o encontro pára aos 73 minutos, faz por igualar o cérebro que parou dos génios que acharam boa ideia atirar foguetes como resposta a um golo anulado ao Inter. O dérbi milanês transposto para a Europa é interrompido, vira mais um corpo transladado para um palco maior, com mais gente a ver. Um ato de violência matou o jogo, a paragem dura uns 20 minutos e os futebolistas refugiam-se no balneário. Quando retornam, a neblina do caos regressa com eles.
Dida é a exceção, não volta ao campo, a queimadura e o hematoma que lhe marcaram um ombro retêm-no nas catacumbas e quem o substitui, Abbiati, vira corpo presente como os restantes jogadores. A bola vai ao meio-campo, apita-se para ela rolar à vontade, mas tudo frena de novo: chovem ainda mais very lights, o estádio é imerso em nevoeiro, a fumarada pinta o Giuseppe Meazza enquanto os futebolistas são espetadores de uma tela de caos. Todos estão de pé, especados a olhar para a erupção das bancadas e Stefano Rellandini tem diante da sua lupa um cenário “de muito vermelho” e “bastante fumo” que o urgia a apontar a câmara e disparar. Era o seu dever.
Mas, de repente, viu “dois jogadores tão diferentes” no enquadramento e o seu faro levou-o a capturá-los.