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O Wrexham pôs Hollywood na IV divisão inglesa, reino de Rúben, o português que faz mais cuecas e assistências

Nasceu em Oliveira de Azeméis, foi criança para os Países Baixos e desconfiou quando, há uns anos, o clube mais antigo do mundo, afundado na National League inglesa, delirou com as suas estatísticas. Rúben da Rocha Rodrigues é o rei dos passes para golo no campeonato semi-profissional onde o Notts County segue atrás do clube do ator Ryan Reynolds, mas também merecia um documentário. Em entrevista à Tribuna Expresso, o português fala da frustração vinda de algo incrível: mesmo a fazer “uma época quase perfeita” e com mais de 100 pontos e golos marcados, a sua equipa está na sombra do clube que os fez serem “os underdogs

Diogo Pombo

Matthew Ashton - AMA

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Há estatística para tudo e mais um par de botas hoje em dia: remates falhados com o pé esquerdo, bolas recebidas com o pé não dominante, a quantidade de sprints a alta velocidade dados num jogo, a probabilidade de um pontapé de certo lugar ser golo consoante todas as anteriores tentativas feitas desse sítio ou os mais cândidos “passes para a frente, esquerda, direita ou para trás”. A minúcia dos números é uma arma do futebol na caça por ganhos marginais e “os donos do Notts County” puseram a lupa em “tudo o que conseguires imaginar” de quantificável na busca por um médio-ofensivo até chegarem ao nome de Rúben Rodrigues.

Vivia e jogava em Den Bosch, nos Países Baixos para onde exata que se mudou aos quatro anos e oito meses. Fala com sotaque de Oliveira de Azeméis, entremeia o sibilo dos ‘s’ com os sons nasalados do neerlandês ao descrever como o conforto, na altura, o fez hesitar: “Estava com a família e tinha opções na I Divisão de lá, era profissional. Eles continuavam a telefonar e pensei ‘então vamos lá sentar e falar com eles, ao menos isso’.” O jogador ia virar “um free agent”, vivíamos na incerteza da pandemia, o Notts County ofereceu-lhe um contrato e lá foi Rúben à descoberta do quinto escalão do futebol inglês.

Três anos à frente, gabam-lhe a habilidade para tricotar fintas e contam-lhe o número de cuecas feitas num só jogo. Há meses, a “BBC” despistou seis bolas que o jogador fez passar por entre as pernas de adversários. Mas não, “foram sete, foram sete”, corrige, entre risos e ao telefone. Rúben Rodrigues, 26 anos, retrata-se e admite que se põe conscientemente “em situações de risco” no campo. “Tipo ‘olha, se perder a bola perdi, acontece’, ao menos gosto de ir contra adversários e no um contra um para criar alguma coisa. Quando encaras um defesa e ganhas o duelo, alguém mais terá de sair e isso vai criar espaço”, defende, com uma explicação que poderia ser o resumo da importância do drible no futebol. “Gosto de driblar, ya”, conclui, ao embrulhar a recordação da tal partida em que aplicou sete maldades.

Nesse jogo, o adversário era o Wrexham.

Foi em outubro e o Notts County ganhou, 1-0, mais uma vitória numa época “quase perfeita”. À terceira na companhia de Rúben, o clube vai com 111 golos marcados na National League e uma diferença de +79 quando a equipa na posição logo abaixo regista só +27. São 31 vitórias, 10 empates e apenas três derrotas. O português constata que “esta temporada nunca vai ser replicada”. Mas, para o clube mais antigo do mundo - fundado em 1862, antes até da Football Association, a primeira federação da história -, é uma época “de frustração” porque, mesmo com 103 pontos no campeonato, são “os underdogs”.

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