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Cordialmente, Matheus Nunes deu as boas-vindas a Lampard com um tiro à Lampard que faz o Wolverhampton respirar e agrava a crise do Chelsea

Um grande golo do internacional português, num remate a fazer lembrar os tempos de jogador do novo técnico interino dos londrinos, deu os três pontos (1-0) à equipa de Lopetegui, que ganha alguma margem na luta pela manutenção. Manchester United bateu Everton, Fulham de Marco Silva somou a quinta derrota seguida

Pedro Barata

Andrew Kearns - CameraSport/Getty

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Há bandas sonoras futebolísticas que nos transportam para certos lugares. As vuvuzelas guiam-nos mentalmente até à África do Sul 2010 e a Diego Forlán a dominar a Jabulani, os coros femininos levam o cérebro a pensar na Choupana, em fins de tarde de nevoeiro com Manuel Machado no banco. Em Inglaterra, talvez nada seja mais identificativo do que o bruaá quando há uma bola solta, perdida, sem dono, à espera de ser rematada à alguma distância da baliza rival.

É como se da bancada viessem apelos para que a bola fosse esmagada contra as redes, num grito que pode ser mais indefinido ou ecoar um claro “shooot”, uma ligação direta ao coração do jogo inglês. Em Wolverhampton, tão perto de Birmingham, um dos berços do futebol, esse instante que se parece dividir em três — o apelo ao remate, o silêncio subsequente, o disparo em si —caiu sobre o corpo de Matheus Nunes.

O médio que ainda em abril de 2018 atuava num Ericeirense - Oeiras, viu a bola cair-lhe, saltitante, à frente, após cruzamento de trivela de Daniel Podence e desvios de Matheus Cunha e de Koulibaly. Instigado pelo rugido do Moulineux, o remate foi tão inglês quanto os pedidos para que ele surgisse. Bang. 1-0 e um festejo de personalidade, de afirmação, de comunhão com a bancada que emocionalmente contribuíra para aquele momento.

O míssil de Matheus Nunes deu os três pontos ao Wolverhampton contra o Chelsea. Do lado visitante estava Frank Lampard, em nova estreia no banco do clube onde brilhou como jogador e que o havia despedido no começo de 2021 como técnico. As novas boas-vindas a Lampard foram dadas por Matheus Nunes com um golo à Lampard, um tiro como aqueles que o melhor marcador da história do Chelsea celebrizou. Uma bonita homenagem de um médio a um antigo médio.

O Wolverhampton entrou em campo com José Sá, Nélson Semedo, Toti Gomes, Podence e Matheus Nunes de início, enquanto do outro lado João Félix também foi titular. João Moutinho entrou aos 64', Pedro Neto não saiu do banco, o capitão Rúben Neves está suspenso.

A tarde esteve longe de ser um hino ao futebol, ou não estivesse em causa um duelo entre duas equipas com problemas. O Wolves, com as urgências da luta pela manutenção em cima, e o Chelsea, de crise em crise, de despedimento em despedimento, sem rumo entre tantos milhões.

O grande momento da tarde foi, mesmo, o golo de Matheus Nunes aos 31'. Entre dois conjuntos sem avançados com golo, teve de ser um médio a desfazer um nulo. De um lado o Wolves: Diego Costa zero golos na época, Matheus Cunha um golo, Hwang Hee-chan dois golos, Raúl Jiménez três festejos. Do outro o Chelsea: Havertz nove golos, Sterling sete golos, Félix dois golos pelos blues, Aubameyang três.

Foi o segundo festejo de Matheus na Premier League.

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Wolverhampton Wanderers FC

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Nick Potts - PA Images

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Nick Potts - PA Images

O Chelsea, honesto e transparente, jogou sempre como aquilo que é. Uma equipa à qual chamar equipa soa a exagero, um conjunto de jogadores contratados, quase todos, por valores milionários nos últimos meses e que está longe de agir como coletivo. James sobe pela direita e não há ninguém para quem cruzar. Félix surge preso à esquerda sem sócios para combinar. Enzo é o maestro de orquestra que olha em redor e não tem músicos para dirigir.

No banco estava Frank Lampard, a lenda como jogador vinda ao resgate em forma de treinador interino. O último treinador a ser despedido por Abramovich para que o russo contratasse, no começo de 2021, Thomas Tuchel, o campeão europeu despedido pelos novos donos, que contrataram Graham Potter, que foi despedido para contratar Frank Lampard, o originalmente despedido.

“Os donos são bilionários, portanto portanto são bastante inteligentes”, disse Potter em janeiro. A inteligência de gastar €281 milhões no verão em reforços para o gosto de Tuchel, despedido pouco depois do fecho dessa janela de mercado. A clarividência de gastar €329 milhões no inverno, não se sabendo bem se confiando em Potter ou não.

Todd Boehly, um dos donos, entrou no Chelsea prometendo um modelo “disruptivo” para a gestão. Talvez isto seja tudo tão disruptivo que nós, os que não somos bilionários e, portanto, não somos bastante inteligentes, não conseguimos compreender.

Eddie Keogh/Getty

O Chelsea é 11.º, uma posição mediana coincidente com a mediania da equipa. Com os três pontos, o Wolverhampton é 12.º, quatro pontos acima da primeira posição de descida. Lopetegui respira melhor.

United ganha, Fulham perde

Na luta por ficar entre os quatro primeiros e ir à próxima edição da Liga dos Campeões, Manchester United, Newcastle e Tottenham fizeram os seus deveres e venceram.

Com Bruno Fernandes a titular, o Manchester United venceu, por 2-0, o Everton. McTominay e Martial deram os três pontos aos red devils contra um Everton que continua a sofrer nos últimos lugares da tabela, tratando de evitar uma descida que não sucede desde os anos 50. Tem 27 pontos, os mesmos do Nottingham Forest, primeira equipa em posição de ser relegada.

O United é quarto, com os mesmos pontos do terceiro, o Newcastle. Os magpies foram a Londres ganhar, por 2-1, ao Brentford. O Tottenham, quinto a três pontos de Newcastle e united, recebeu e bateu o Brighton, por 2-1.

O Fulham de Marco Silva perdeu, por 1-0, frente ao West Ham, outro aflito. É a pior fase da temporada para o técnico português, que vai em cinco derrotas consecutivas. O Fulham é 10.º, com 39 pontos.