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Futebol internacional

Em Itália dizem que os milhões sauditas estão a cantarolar aos ouvidos de José Mourinho, que pode reencontrar Cristiano Ronaldo

A ideia seria substituir Hervé Renard no banco da seleção saudita, por onde já passaram Nelo Vingada, Carlos Queiroz e José Peseiro, mas também por um clube - e o Al-Nassr é um deles. De acordo com o “Corriere dello Sport”, a federação daquele país terá feito uma “oferta monstruosa” a José Mourinho. A proposta será de 120 milhões de euros por dois anos

Hugo Tavares da Silva

NurPhoto

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A luz que lambia o Estádio Lusail, naquele 22 de novembro, parecia cinematográfica. Assim o foi também na entrada dos argentinos em campo para o aquecimento. A barba de Lionel Messi e os seus acenos honestos pareciam pertencer à realeza. Tresandava a jogo de exibição, a algo protocolar. Do outro lado, de verde, a aquecer como se fossem carne fresca para entregar aos tigres, estavam os futebolistas da Arábia Saudita. Depois de uma fugaz enxurrada de deslumbramento manso, os sauditas levantaram-se, inspirados pelas palavras de Hervé Renard, um rosto que parece mentira e um nome que podiam muito bem protagonizar um filme qualquer.

A Arábia Saudita chocou o mundo ao vencer a Argentina na estreia do Campeonato do Mundo. O golaço de Salem al Dawsari inaugurou suspiros e brilhos nos olhos. Lá fora, nas ruas de Doha, a festa foi tremenda. Uma onda verde imparável. “Viste o Messi?”, ensaiou-se até à exaustão. Cidadãos de outras nações alinharam na galhofa. Renard, sempre sedutor, decretou calma no mundo, é que a Argentina acabaria por ir à final e venceria. E o profeta acertou. Depois de levar um país inteiro ao delírio, pelo menos durante 90 minutos mais os prolongamentos da festa, Hervé Renard abandonou o banco da seleção saudita. É o novo treinador da seleção feminina francesa.

Ou seja, há uma vaga importante para preencher no futebol saudita, o tal que tem há uns meses Cristiano Ronaldo como maior bandeira. De acordo com o “Corriere dello Sport”, a federação daquele país terá feito uma “oferta monstruosa” a José Mourinho. Por dois anos, terão oferecido ao treinador português da Roma qualquer coisa como 120 milhões de euros.

O diário italiano refere que foi oferecido a Mourinho, que até terá falado daquela proposta com a sua equipa técnica, treinar também um clube do país, nomeadamente o modesto Al-Ahli ou o Al-Nassr, onde joga Cristiano. Seria uma reedição da dupla que fez frente, em Madrid, ao super poderoso Barcelona de Pep Guardiola. Essa conjugação seleção-clube terá que ver com o pouco fascínio que José Mourinho terá ainda pelo futebol de seleções. O “Corriere dello Sport” refere ainda que Mou tem em mente ficar em Roma e está à espera de uma reunião com os cartolas do clube, onde vai lutando por uma vaga na Liga dos Campeões e pisca o olho à conquista da Liga Europa, competição na qual assinaria um hat-trick depois de conquistar esse torneio com FC Porto e Manchester United.

Carlos Alberto Parreira treinou a Arábia Saudita em dois momentos (1988-1990 e 1998)

Carlos Alberto Parreira treinou a Arábia Saudita em dois momentos (1988-1990 e 1998)

OLIVIER MORIN

O banco da Arábia Saudita, certamente atrativo pelos milhões que voam para as contas bancárias dos escolhidos, já teve nomes importantes como Carlos Alberto Parreira, Leo Beenhakker, Mario Zagallo e Frank Rijkaard.

O cargo também já recebeu três portugueses. Nelo Vingada, em 1997, passou por ali 303 dias. Depois, em 2000, numa altura em que Mourinho se preparava para avançar como treinador principal pela primeira vez no Benfica, Carlos Queiroz permaneceu como selecionador saudita 181 dias, em 2000. Mais recentemente, entre 2009 e 2011, José Peseiro treinou a equipa durante 690 dias.

Se a nível regional a Arábia Saudita conta com inúmeros momentos gloriosos, no panorama continental e planetário tem protagonizado episódios marcantes. Esteve presente nos Campeonatos do Mundo de 1994, 1998, 2002, 2006, 2018 e 2022 e foi finalista da Taça das Confederações em 1992 (desta vez pingou para o lado dos argentinos, em Riade). Os sauditas levantaram a Taça da Ásia três vezes – 1984, 1988, 1996 – e conquistaram ainda a Taça das Nações Árabes em 1998 e 2002.

As Nações Unidas colocaram a Arábia Saudita na lista dos maiores violadores de direitos humanos do mundo, ao lado de países como Coreia do Norte, Síria, Irão e Afeganistão. Um documento recentemente publicado por aquele organismo indicava que “os abusos dos direitos humanos estão descontrolados e incluem torturas, detenções arbitrárias e execuções”.