Um jogador passa uma hora e meia em campo. Se tiver sorte, vai correr, passar, rematar e tentar vários afazeres que, haja competência e ventos sortudos a soprarem-lhe de direção favorável, acertará mais do que falhará. Nenhum futebolista é uma máquina, o futebol são onze contra onze e no final costuma ganhar quem erra menos, não quem é cobrado desmioladamente por adeptos para encarnar uma fusão interior entre Pelé, Diego Maradona, Eusébio ou outros que se enganavam menos vezes do que os comuns chutadores de bola.
Terá sido essa cobrança a metamorfosear-se em insultos na página de Instagram de Nico Williams, espanhol do Athletic Bilbao que empatou, na terça-feira, contra o Osasuna, resultado insuficiente para o clube alcançar a final da Taça do Rei - seria a terceira em quatro épocas. Em noite de San Mamés regalado e o estádio a rebentar os botões da camisa com 51.544 pessoas lá dentro, o jovem extremo deve um par de ocasiões de remate à baliza que o tinham bem a jeito de marcar, mas não o conseguiu, para clamor do público.
Os bascos foram eliminados e não tardou até que muitos bravos do teclado, quais Rambos com um telemóvel nas mãos, se dessem ao trabalho de ir à página de Instagram do extremo de 20 anos para lá lhe deixarem insultos. Na manhã desta quarta-feira, a conta já tinha sido apagada e razão, noticiou a “Marca”, foi a avalanche de ódio que o internacional espanhol recebeu apenas dias após ter encerrado a sua presença no Twitter pelas mesmas razões. Portanto, mais um episódio de um futebolista a ser crucificado por quem se acha no direito de poder insultar gratuitamente.
No final do Athletic-Osasuna, o mano de Nico prestou-se a mostrar compaixão pelo irmão. “Eu, mais do que ninguém porque tocou-me já falhar, sei aquilo que o meu irmão poderá estar a passar”, disse Iñaki Williams, também internacional espanhol e oito anos mais velho, que até lhe passou a bola numa das oportunidades de golo não aproveitadas. “É normal que esteja chateado, toda a equipa está chateada, ficámos às portas de outra final e não há palavras. Estamos muito tristes”, enquadrou, antes de lembrar o que desvanece de tantas cabeças, tantas vezes.
“Na vida perde-se mais do que se ganha”, lembrou, ainda na flash interview no relvado, trilhando ao irmão que “não há outra hipótese além de esforçar-se e continuar a trabalhar”. Iñaki ainda não saberia do que Nico teve de lidar no seu Instagram e disse como ele “tem muitíssimo futuro pela frente” e “isto lhe vai servir de aprendizagem”. Mas quem tem de aprender não será o futebolista.