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Devido ao “princípio da neutralidade do futebol”, França proíbe pausas nas partidas durante o Ramadão para que jogadores muçulmanos comam

Num e-mail enviado aos dirigentes dos clubes e árbitros, a Federação Francesa de Futebol informou que não serão autorizadas interrupções nas partidas que decorram durante o pôr do sol para que futebolistas muçulmanos, a cumprirem o jejum por motivos religiosos, possam comer. “Um campo de futebol não é local de expressão política ou religiosa”, é a justificação dada, com base nos estatutos da entidade. Em Inglaterra, a Premier League permite que os jogadores ingiram alimentos durante as paragens dos encontros

Pedro Barata

FRANCK FIFE/Getty

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A 22 de março, começou o Ramadão, mês sagrado do jejum e oração para os muçulmanos, com data de fim marcada, em 2023, para 21 de abril. Durante este período, muitos crentes interrompem a ingestão de alimentos e água do nascer até ao pôr do sol.

Em Inglaterra, em jogos que decorram durante o pôr do sol, começando de dia e terminando à noite, os árbitros podem dar aos jogadores a oportunidade de comerem quando o astro à volta do qual anda a Terra se põe para lá do horizonte. Na Premier League e em divisões inferiores, os futebolistas podem aproveitar os “intervalos naturais” nos encontros para o fazerem, por exemplo, quando um companheiro é assistido. Em Portugal, também já houve casos semelhantes: o líbio Al Musrati fê-lo, por exemplo, durante o Gil Vicente- Sporting de Braga, há duas épocas.

No entanto, em França tal situação será proibida. Num e-mail enviado a dirigentes de clubes e árbitros, a Federação Francesa de Futebol, através da Comissão Federal de Árbitros, lembrou que permitir “interrupções de jogos para quebra de jejum do Ramadão” vai contra “o dispostos nos estatutos” federativos, recordando o “princípio da neutralidade do futebol”.

Jack Stephens, do Southampton, come uma banana num jogo contra o Leicester, realizado no período do Ramadão, em 2021

Jack Stephens, do Southampton, come uma banana num jogo contra o Leicester, realizado no período do Ramadão, em 2021

MICHAEL STEELE/Getty

No texto enviado, a federação afirma, com base nos seus estatutos, que “um campo de futebol não é local de expressão política ou religiosa", devendo ser “um local de neutralidade onde devem prevalecer os valores do desporto”. Além da questão religiosa ou política, a entidade proíbe, ainda, “manifestações de natureza ideológica ou sindical”, pode ler-se.

Se estas disposições não forem cumpridos, os prevaricadores poderão “ser sujeitos a processos disciplinares”, termina a Federação Francesa de Futebol.