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Tem três dólares à mão? Se sim, pode ajudar um empresário finlandês a comprar o Manchester United, porque “os clubes devem ser dos adeptos”

Thomas Zilliacus, antigo executivo da Nokia e empreendedor, diz ter feito uma oferta para adquirir o clube, à venda desde novembro. O finlandês diz-se disposto a financiar metade da operação, com o resto da quantia a ser colocada pelos adeptos, que teriam poder de decisão nos diversos aspetos da vida dos red devils. A INEOS, os antigos donos do AC Milan e o presidente de um dos principais bancos do Catar também estão na corrida

Pedro Barata

D.R.

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Thomas Zilliacus nasceu em Helsínquia, há 69 anos. Tornou-se, em 1979, no membro mais jovem da assembleia municipal da cidade, numa atividade política paralela a uma vida empresarial de êxito. Na Nokia, chegou a posições de destaque, nomeadamente CEO da empresa para o Sudeste Asiático. Empreendedor, investiu, nos últimos anos, em áreas como as redes sociais.

No desporto, foi presidente do HJK, clube de futebol que foi 32 vezes campeão finlandês, e dono do Jokerit, equipa de hóquei no gelo. E pretende, agora, ser dono do Manchester United. Mas de forma democrática.

Em comunicado, Zilliacus diz que o valor de mercado atual dos red devils, que foram colocado à venda pelos Glazers em novembro, é de €3,63 mil milhões — segundo a imprensa inglesa, dos donos do United querem entre €5 a 6 mil milhões pelo clube.

Ora, numa proposta que quer ser construída “em igualdade com os adeptos”, o finlandês explica que o seu grupo de investimento irá financiar metade do valor necessário para adquirir o clube inglês, pedindo aos adeptos, “através de uma nova empresa que será criada para o propósito”, que paguem a outra metade. Segundo as contas de Zilliacus, são precisos três dólares (€2,79) por fã para conseguir o negócio.

“Os clubes devem ser dos adeptos”, entende o empresário, que pretende que haja uma aplicação que permita aos fãs que ajudarem na aquisição votar em questões da vida do clube. “Se tivermos êxito na compra, asseguraremos que o Manchester United agirá com base no respeito, igualdade, dignidade, harmonia racial e democracia, envolvendo as pessoas em todas as decisões”, promete.

A Sky Sports e o “The Guardian” colocam em causa o músculo financeiro de Zilliacus, duvidando se este tem a capacidade para tamanha operação e questionando se o finlandês não quererá apenas visibilidade. No entanto, justamente em declarações à Sky Sports, o empreendedor assegura “ter o dinheiro” para comprar o clube, ainda que admita a “possibilidade de unir esforços com outros interessados que também pretendam envolver os adeptos e promover certos valores”.

Zilliacus lança, também, uma mensagem final que é uma crítica aos dois principais candidatos conhecidos na corrida. “A situação atual, em que bilionários e oligarcas compram clubes e os controlam como o seu recreio pessoal, não é uma tendência saudável”, defende.

As duas mais relevantes intenções conhecidas são da parte de Jim Ratcliffe, o homem mais rico do Reino Unido, e de Sheikh Jassim im bin Hamad al-Thani, filho de um antigo primeiro-ministro do Catar e presidente de um dos principais bancos do país do Médio Oriente, o QIB.

À Sky Sports, fontes próximas de Sheikh Jassim bin Hamad al-Thani sublinharam que se trata de uma oferta privada, sem ligação com o Estado do Catar nem com a Qatar Sports Investment, subsidiária do fundo soberano do país do Médio Oriente que detém o PSG ou 21,67% do Sporting de Braga.

Jim Ratcliffe, de 70 anos, é o fundador da INEOS, uma multinacional ligada à indústria química. A INEOS é um dos principais investidores no desporto a nível global. Detém uma das maiores equipas de ciclismo do mundo, a INEOS Grenadiers, e, no futebol, o Nice, da Ligue 1, e o FC Lausanne-Sport, da Suíça. Possui, também, uma percentagem da Mercedes, na Fórmula 1.

Segundo a BBC, nos últimos dias, responsáveis do Manchester United reuniram-se com oito interessados na compra.

Também no processo de venda está o Elliot Investment Management, grupo que já deteve o AC Milan. Mas, segundo o “The Guardian”, o Elliot só está interessado em adquirir os 31% do United que não pertencem aos Glazers e que estão cotados na bolsa de Nova Iorque.

Os Glazers, donos do Manchester United desde 2005 — num processo altamente controverso que até levou a que adeptos dos red devils criassem outro clube —, anunciaram em novembro que estavam à procura de “novo investimento” para o clube, que poderia ser uma venda total ou parcial. A venda mais cara da história do desporto foi a dos Denver Broncos, da NFL, avaliada em cerca de €4,22 mil milhões, valor que poderá ser ultrapassado pelo clube de Bruno Fernandes e Diogo Dalot.