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Futebol internacional

Kylian Mbappé é o novo capitão da seleção francesa, o que deixou Griezmann desolado e a ponderar deixar a equipa

O tema nacional, na ressaca da final do Campeonato do Mundo e motivado pelos abandonos de Lloris e Varane, serve para lançar o arranque do apuramento para o próximo Europeu. Michel Platini e Alain Giresse apreciaram a ideia de Didier Deschamps, mas o ex-colega Robert Pires nem por isso. Mbappé, de 24 anos, tem 66 internacionalizações e 36 golos pela seleção francesa

Hugo Tavares da Silva

DeFodi Images

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Quando entrou no hotel para a concentração francesa, Kylian Mbappé estava vestido de negro, gola alta, casaco impecável e óculos escuros. Didier Deschamps, à conversa com um outro futebolista, olhou de soslaio e só depois a memória beliscou-lhe os olhos. “Não te estava a reconhecer…” Depois, as palavras brincalhonas e o afeto através das mãos, denunciando que os treinadores protagonizam muitas vezes o papel de tio distante.

Este era o reencontro depois de um Campeonato do Mundo mítico, com o avançado do PSG a fazer três golos na final contra a Argentina, o que não chegou para repetir o título de 2018. Mbappé foi aclamado como um dos maiores nomes do torneio, parecendo de tal maneira talhado para esta competição que há quem mencione a aura de Pelé, o génio goleador e artístico que foi campeão do mundo em 1958, aos 17 anos, 1962 e 1970.

Esta reunião marca o regresso aos trabalhos oficiais. Será mais uma corrida para um Campeonato da Europa, que escapa à França desde 2000. Na sexta-feira, 24, os franceses defrontam os Países Baixos e três dias depois medem a autoridade contra a República da Irlanda, jogos a contar para o Grupo B, que conta ainda com Grécia e Gibraltar.

Entre as burocracias e os protocolos de clubes e seleções está a nomeação do capitão de equipa, algo indispensável no campo, segundo o regulamento, mas é também algo de maior importância num balneário. No último jogo antes do Mundial, no Catar, Antoine Griezmann enfiou a braçadeira no braço contra a Dinamarca, na ausência de Hugo Lloris e Raphael Varane. Como ambos disseram adeus à seleção depois do torneio que eternizou ainda mais Lionel Messi, Griezmann esperava o óbvio.

FRANCK FIFE

Mas não foi assim. Antoine, que resgatou uns risos à chegada à concentração por causa do seu cabelo rosa choque, ouviu da boca do selecionador que o próximo a dizer umas coisas no balneário, a apertar a mão ao outro capitão antes do jogo, escolhendo aí campo ou bola junto do árbitro e da sua moeda, será Mbappé, um jovem de 24 anos, com 36 golos em 66 internacionalizações.

“O Kylian reúne todas os requisitos para esta responsabilidade”, disse à TF1 Deschamps, um homem que imitou o que Mário Zagallo e Franz Beckenbauer haviam feito no passado (ganhar Mundial como jogador e treinador). “No campo e na vida do grupo, é um elemento unificador.”

Griezmann, de 32 anos, conta com 117 jogos na seleção, 99 deles a titular. Foram já 42 golos e muitas exibições memoráveis. De acordo com o “L’Équipe”, Griezmann esperava ser o próximo capitão de França, ficando-se pelo papel secundário de vice-capitão.

O futebolista canhoto do Atlético de Madrid terá ficado tão desiludido que ponderou abandonar a concentração e o futebol internacional, escreveu ainda o diário francês, que revela que o jogador se sente desvalorizado e que tem números e importância suficientes para o cargo. Apesar de tudo, diz a imprensa desportiva, a relação entre Mbappé e Griezmann é muito boa e, no dia seguinte, foram vistos a falar e a rir como se nada tivesse acontecido.

Um ex-companheiro de Deschamps na seleção, Robert Pires, colocou-se do lado de Griezmann nesta contenda silenciosa. “Honestamente, não é uma escolha lógica”, começou por dizer o ex-futebolista do Arsenal à France Info. “Considerando a longevidade e os anos que passaram, esperava que fosse Griezmann o escolhido. Estou surpreendido, até porque o Griezmann é o homem forte do Deschamps, aquele que mais conta, que tem mais jogos consecutivos. É uma falta de respeito para com o Griezmann, apesar de eu não ter nada contra o Kylian.”

Em sentido contrário estão Michel Platini e Alain Giresse, magos daquela França especial de 1984. “É uma muito boa ideia”, disse o primeiro à Agence France-Press. Já Giresse mencionou que é uma escolha “muito valiosa” para seleção nacional.