Fala-se de Gerard Piqué por um pouco de tudo. Pelo que fez em campo e deixou de fazer abruptamente em novembro. Pelo que ia criando fora dele. Pela Taça Davis que revolucionou, para de repente a perder. Por negócios, por relações, pela vida pessoal, que parecia de sonho e afinal agora é assunto de bate-boca. Piqué é uma figura inconvencional, o antigo defesa que tudo ganhou e que ainda sonha em ser presidente do Barcelona.
Mas, para já, divórcio mediático à parte, ele é notícia por outros temas. Nomeadamente a Kings League, uma competição que junta futebol e espectáculo, streamers e antigos futebolistas - que até Ronaldinho já fez regressar aos campos - feita para um público mais jovem e que foi um rotundo sucesso do outro lado da fronteira. Dia 26, a final joga-se em pleno Camp Nou, já há 75 mil bilhetes vendidos e mais de dois milhões de pessoas vão dando lastro à audiência da prova.
Sobre esse tema, ao “El País", Pique confessa que não esperava “tanto” sucesso “e tão rápido” e que vê a Kings League “perdurar no tempo porque é um produto emocionante, que agarra as novas gerações”, tantas vezes cansadas do futebol dos 90 minutos e dos clubes fechados em si mesmos. O próximo passo é levá-la para o imenso mercado da América Latina.
A inteligência que mostrava no eixo da defesa, Piqué parece ter levado para os negócios. Sobre o polémico acordo que levou a Supertaça espanhola para a Arábia Saudita e onde a Kosmos, a empresa de organização de eventos que criou, tem dedo, Piqué fala de “orgulho” e que “se armou uma confusão” sobre o assunto: “Quando explicas bem, fica claro. E expliquei-o em 10 minutos. É uma das melhores operações da história da federação espanhola”.
Menos bem correu a compra dos direitos da Taça Davis. Na mesma semana em que Shakira lançou uma canção pouco abonatória para o seu ex-marido, colocando Piqué nas rádios um pouco por todo o planeta, a ITF, federação internacional de ténis, anunciou o fim do acordo de 25 anos com a Kosmos para a organização da centenária prova de seleções. Piqué diz que “foi duro”, explicando o fim da relação. “Pagávamos honorários à ITF, que iam subindo a cada ano. Projetámos a 25 anos e esperávamos x de ingressos. Mas vem a covid e esses ingressos ficam pela metade”, detalha o ex-defesa, que diz que no primeiro ano “os números foram espectaculares”, mas que em 2020 não se repetiram. E depois de organizarem a prova em 2021 sem público, com os honorários sempre a subir, procuraram renegociar o contrato com um valor que Piqué diz ser mais próximo do valor de mercado, algo que a ITF não aceitou. “Agora estamos em tribunal”, revela.
Sobre a vida pessoal, poucas palavras, mas o recado fica dado: “Cada um tem a responsabilidade de tentar fazer o melhor para os seus filhos”. O seu papel, diz, é “proteger” as crianças: “É nisso que estou centrado e é esse o meu trabalho como pai”. Sobre as confusões mediáticas em que tem estado envolvido, diz apenas que quer ser “fiel” a si mesmo. “Não vou andar a gastar dinheiro a limpar a minha imagem”, sublinha, afirmando-se “muito feliz” e que, mesmo com as mudanças na sua vida, soube “preservar a felicidade”.
Voltando a Barcelona, diz não ter arrependimentos em ter deixado o futebol a meio da época (“Se tínhamos jogo às 16h, depois de comer, e com sol… custava-me. Já não tinha vontade”) e nega que os jogadores soubessem algo do caso Negreira - o Barcelona terá feito pagamentos a um membro do Comité Técnico de Árbitros para elaborar relatórios sobre árbitros que iriam dirigir jogos do clube.
A prática do desporto, essa, parece ter perdido definitivamente terreno para o negócio do desporto na vida de Piqué. “Desde o dia que joguei o último jogo, contra o Almería, não dei um passo mais rápido que outro”, confessa ao “El País”.