O congresso da FIFA em Kigali, no Ruanda, elegeu para novo mandato, sem qualquer surpresa ou oposição, Gianni Infantino. O suíço, presidente da entidade máxima do futebol mundial desde 2016, dirigiu-se a uma plateia repleta de dirigentes do jogo para um discurso cheio de elogios ao trabalho que vem fazendo, bem como algumas explicações quanto a polémicas recentes.
Tendo listado os seus próprios êxitos, Infantino voltou a classificar o Mundial 2022, no Catar, como o “melhor de sempre”, revelando que a FIFA teve, entre 2019 e 2022, €7,8 mil milhões de receitas, possuindo cerca de €3,78 mil milhões em reservas bancárias. “Se um CEO fizesse isto, os acionistas mantê-lo-iam no cargo para sempre, mas eu só estou aqui para mais quatro anos”, disse o suíço entre o tom opaco que a iluminação escolhida para as grandes salas de reuniões da FIFA sempre confere.
Um dos temas mais aguardados do congresso era uma posição oficial quanto ao suposto acordo da FIFA com a agência de turismo da Arábia Saudita para patrocinar o Mundial feminino, que decorrerá de 20 de julho a 20 de agosto na Austrália e na Nova Zelândia. O negócio, nunca confirmado nem desmentido, levou a fortes críticas dos organizadores da competição, bem como de estrelas como Alex Morgan, Megan Rapinoe ou Vivianne Miedema, devido ao desrespeito por direitos humanos, particularmente das mulheres, existente na Arábia Saudita.
Ora, Infantino confirmou que “houve discussões” com o turismo da Arábia Saudita, mas que as mesmas “não levaram à finalização de um contrato”. “Foi feita uma tempestade num copo de água”, referiu o suíço, que defendeu que os “211 países da FIFA são iguais” — recorde-se que, durante o Mundial do Catar, Infantino sugeriu que a Coreia do Norte poderia organizar uma grande competição, porque “o futebol pode juntar as pessoas”.
O presidente da FIFA lembrou ainda que há mais de €1.000 milhões de comércio anual entre a Austrália e a Arábia Saudita e “isso não parece ser um problema”, pelo que houve “dois pesos e duas medidas” na avaliação do possível patrocínio do país do Médio Oriente ao Mundial.
Quanto aos prémios monetários a serem atribuídos no Mundial, que contará com a presença de Portugal num grupo com EUA, Países Baixos e Vietname, o presidente da FIFA anunciou que serão distribuídos cerca de €141 milhões entre as 32 seleções participantes, numa subida de 300% face aos valores da última edição, em 2019. A quantia fica muito distante dos cerca de €415 milhões de prize money da competição masculina que decorreu no Catar.
Para justificar esta diferença, Infantino disse que “não é possível” igualar os prémios neste momento devido aos acordos televisivos. O suíço apontou o dedo às estações de televisão, recordando que muitas delas são públicas ou financiadas por dinheiro público, revelando como algumas ofereceram “20% ou 50% menos do que nos contratos do Mundial masculino”. A FIFA pretende igualar o dinheiro distribuído nos próximos Mundiais masculino e feminino, que serão, respetivamente, em 2026 e 2027.
Durante o congresso da FIFA no Ruanda, Infantino inaugurou a nova denominação de um estádio no país, que passou a ter o nome de Pelé, correspondendo ao apelo feito pelo suíço após a morte do brasileiro.
O reeleito presidente contou ainda como uma visita a um memorial das vítimas do genocídio no Ruanda, em 1994, o ajudou na sua primeira campanha para o cargo, em 2016: “Estava deprimido e quase a desistir. Fui visitar o memorial e disse: ‘Como é que vou desistir?’. Como este país sofreu e como deu a volta é inspirador para todo o mundo, então eu não podia desistir. Continuei a campanha e fui eleito presidente uns meses depois”, disse Infantino.