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A receita argentina de Suárez para o Brasil ganhar o Mundial: “Tem de meter 10 jogadores que corram e trabalhem para o Neymar”

Numa entrevista honesta à “Placar”, Luis Suárez, o novo craque do Grêmio e do Brasileirão, falou ainda abertamente sobre o episódio da dentada a Chiellini no Mundial 2014 e como isso, com a ajuda de uma psicóloga, mudou a sua vida. O uruguaio refletiu também sobre o trio fabuloso de Camp Nou onde não entrava inveja e desabafou sobre o destino de Neymar que não se deu: “Se tivesse ficado no Barcelona, teria ganhado uma Bola de Ouro, com certeza"

Hugo Tavares da Silva

sampics

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Desde que Luis Suárez foi anunciado como nova fera dos gramados brasileiros, o Grêmio ganhou quase 20 mil novos sócios e vendeu pelo menos 9.000 camisolas com nome e número do craque. Os dados moram na “Placar”, na qual, na edição deste mês, vem uma entrevista ao avançado uruguaio.

Naquelas sete páginas da mítica revista brasileira percorre-se a história do futebolista por várias latitudes e momentos marcantes. Demonstra-se os golos que fez por Nacional, Groningen, um clube para onde foi para chegar finalmente à Europa para ir atrás do seu amor da juventude (tem três filhos com Sofia Balbi), Ajax, Liverpool, Barcelona, Atlético de Madrid e, claro, Uruguai. Aos 36 anos, Luis Alberto Suárez Díaz continua com a bota afinada: oito golos em nove jogos pelo Grêmio, num não tão exigente campeonato estadual, na Recopa Gaúcha, onde se estreou com um hat-trick, e na Copa do Brasil.

A dentada a Giorgio Chiellini, no Mundial 2014, serviu para marcar um antes e depois. O jogador sul-americano abriu-se talvez como nunca sobre o tema e revelou quão marcante foi aquele momento. Chamaram-lhe “monstro” e “animal”, exigiram sanções, olharam-no de lado. “O que mais me doeu foi tratarem-me como um deliquente”, confessou. Apesar dessa mágoa, o mea culpa aterrou-lhe na alma e o atleta usou esse episódio para mudar algumas coisas na conduta.

“Qualquer pessoa tem dificuldade em reconhecer quando está mal”, refletiu. “E, nesse momento, custava-me [entender isso]. Eu dizia: ‘Ah, foi sem querer’, mas já era a terceira vez [que mordia um adversário]. Pensei: está mal. Comecei um tratamento psicológico que me ajudou muito.” E tudo mudou: aprendeu a falar sobre os problemas e a esvaziar os ataques de fúria.

O palmarés deste bomber é assombroso: 5 La Liga, 3 Ligas Uruguaias, 1 Champions, 1 Campeonato do Mundo de Clubes, 1 Supertaça Europeia, 1 Copa América, 1 Liga Holandesa, 4 Copa del Rey… Enfim, um sem fim de prata regada com muitos, muitos golos saídos dos seus pés e da cabeça. São mais de 500 ao longo da carreira, iniciada em 2005, no seu Nacional. Os dentes há muito passaram a servir apenas para mostrar um sorriso confiante e alegre.

Placar

Quando jogou no Barcelona fez parte de um dos mais famosos e demolidores trios da história do futebol. As companhias de Lionel Messi e Neymar Jr. transformaram Suárez num matador letal e generoso ao mesmo tempo. A cumplicidade entre os três sul-americanos era especial. Tocaram o céu em 2015 quando conquistaram o triplete. Suárez fez o segundo golo do Barça na final contra a Juventus (3-1). Os jornalistas da “Placar” perguntaram-lhe então porque deu tão certo aquele triângulo fabuloso.

“Eu respeitava todos e eles viram que eu vinha para ajudar. Não havia inveja nenhuma. É mais uma prova de que três estrelas podem jogar juntas com o objetivo de ganhar para a equipa, não individualmente”, disse na entrevista, salientando que os colegas o ajudaram a bater Cristiano Ronaldo numa luta pelo prémio de melhor marcador.

A revista, sendo brasileira, quis então saber mais sobre o que pensa o uruguaio do mago que respeita a memória de Pelé. “Se Neymar tivesse ficado no Barcelona, teria ganhado uma Bola de Ouro, com certeza”, arriscou, informando que o jogador queria ficar na Catalunha, responsabilizando o “entorno” pelo desfecho da mudança para Paris.

Perguntaram-lhe também se o brasileiro teria capacidade e vontade de chegar ao próximo Campeonato do Mundo, em 2026. A resposta foi afirmativa. “Não falei com ele, mas recomendo que aproveite ao máximo e tente, não custa nada. Messi, com 35 anos, tentou e conseguiu. O Brasil, se quer ser campeão mundial, tem de fazer o que a Argentina fez com o Messi: meter 10 jogadores que corram e trabalhem para o Neymar. Os craques fazem diferença. Se o Brasil o rodeia com 10 jogadores que corram e trabalhem, Neymar, aos 34 anos, pode funcionar perfeitamente.”

O Grêmio, que acabou por superar o Campinense na Copa do Brasil, está em primeiro lugar do estadual, com oito vitórias e um empate em nove jornadas, com mais seis pontos do que o grande rival, o Internacional. No domingo há jogo grande em Porto Alegre: Grêmio-Internacional. Suárez prometeu golos, pois claro…