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Sete meses depois de ser diagnosticado com cancro, Haller voltou a marcar um golo: “Parecia que o estádio todo estava a arder”

O avançado marcou o terceiro golo na vitória do Dortmund contra o Freiburg, por 5-1. Em julho, o costa-marfinense foi diagnosticado com um tumor maligno num dos testículos. "Estou feliz, mas o caminho ainda é longo, por isso continuaremos a andar e a esperar por mais golos"

Hugo Tavares da Silva

ANP

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Apenas 12 dias depois de assinar o contrato com o Borussia Dortmund, Sébastien Haller ouviu da boca de um médico uma notícia terrível. Tinha um tumor maligno num testículo. Os tratamentos começaram, o cabelo caiu e o futebol ia sendo uma miragem. A cirurgia decisiva deu-se em novembro. Foi preciso esperar seis meses para usar a camisola do clube alemão, outrora cheia dos torsos de Sammer, Kohler e Moller, num jogo particular. Isso aconteceu no dia 10 de janeiro, em Málaga, contra o Fortuna Dusseldorf. Foram 15 minutos especiais.

Agora, menos de um mês depois do regresso, o costa-marfinense apareceu no marcador do jogo contra o Freiburg, na Bundesliga. Os de Dortmund ganharam no sábado por 5-1 e o ex-avançado de Ajax e West Ham marcou o terceiro golo, aos 51’. Foi de cabeça, a mesma que já tem cabelo e não exibe lembranças desavindas.

O substituto de Erling Haaland, de 28 anos, que já jogara como suplente utilizado contra o Augsburg e a titular contra o Leverkusen, contou depois do jogo o que sentia. “Esperei por este momento desde o primeiro dia. Quando eu marquei parecia que o estádio todo estava a arder”, começou por dia.

E acrescentou: “Estou feliz, mas o caminho ainda é longo, por isso continuaremos a andar e a esperar por mais golos.”

Alexandre Simoes

Puxando a fita atrás e à incerteza da doença, na altura Haller revelou os sentimentos. “É uma situação nova para todos. Especialmente para mim e para a minha família. Tenho sorte de ter muitas pessoas à minha volta e muito apoio. Também tenho sorte por não me sentir mal. Ainda consigo andar todos os dias e passar tempo com a minha família e amigos, por isso está tudo bem”, contou em agosto, numa entrevista à ESPN.

Na altura mencionou um ligeiro peso na consciência. “A primeira coisa em que pensei foi: ‘Estou aqui há 10 dias, duas semanas, e nem sequer posso jogar pelo clube'. E pensei no clube, não pareceu um bom negócio. Mas depois, quando pensamos nisto, sabemos que é algo que é impossível evitar”, desabafou na mesma entrevista.

Quando o tratamento começou, já depois de deixar em choque a mulher e ficar preocupado com a mãe (“porque mãe é mãe”), o corpo começou a ceder. Esteve cinco dias no hospital a receber terapia intravenosa 24 horas por dia. O futebolista não saiu da cama. “É nesta altura que perdemos os músculos e a nossa forma física”, contou.

Mas o africano continuou a olhar para o horizonte. Foi uma profecia em jeito de promessa. “O meu primeiro objetivo é regressar aos relvados, jogar em frente ao muro amarelo [adeptos do Dortmund] e marcar o meu primeiro golo. Acho que será um momento bom e emocionante, porque eu recebi muito apoio de todos eles.”

E pronto, Sébastien, chegámos ao futuro.