Certa vez Pep Guardiola disse que o tikitaka era “una mierda”. O catalão tem pavor a testemunhar a estéril passeata da bola de bota em bota. O debate por estes tempos em Inglaterra está à volta de Erling Haaland, o super-goleador: melhorou ou não melhorou a equipa? Há bons argumentos para ambos os lados, mas parece que o jogo da equipa ficou mais espesso.
Talvez seja injusto responsabilizar o avançado nórdico. A mensagem pode estar gasta ou, como alertou Guardiola há poucas semanas, o fastio tomou conta do balneário cityzen. A fome que outros têm já não mora ali. O exemplo do treinador foi o que viveu como jogador, depois de conquistar o tetra no Barcelona, com Johan Cruijff como técnico. É por isso que Pep defende as mudanças no plantel.
E é certo que pode estar também a passar-se algo nas entranhas do clube que não é do conhecimento dos jornalistas e público. João Cancelo era supostamente o melhor lateral do sistema solar e arredores e saiu emprestado. Kevin de Bruyne está no banco de suplentes. Guardiola explicará a seu tempo.
Esta tarde, em Londres, o Manchester City voltou a tropeçar perante o Tottenham de Antonio Conte, que deixou no quentinho do banco Pedro Porro e Arnaut Danjuma, os reforços de inverno dos spurs. Bernardo Silva foi titular, Rúben Dias ficou no banco. Julian Alvarez jogou perto de Haaland.
O City procurava encurtar para dois pontos a distância para o Arsenal, que perdeu no campo do aflito Everton, agora treinado por Sean Dyche. Mas Harry Kane marcou cedo e percebeu-se que seria uma tarde difícil para os visitantes, que revelavam um jogo pouco criativo, previsível e demasiado lateralizado
Rodri procurou Curtis Lewis, a defender a ala esquerda e a pensar como um médio com bola, mas a bola preferiu a certeza de Pierre-Emile Hojbjerg. O dinamarquês encontrou Kane e o inglês meteu a bola na baliza com o pé direito. Acabava de superar Jimmy Greaves como histórico goleador do Tottenham Hotspur: 267 golos. Apesar dos zero títulos na carreira, esta marca é admirável.
Antes do intervalo, Ryan Mahrez atirou uma bola à trave com a sua canhota abençoada. Mas, lá está, quando o futebol quer ser cruel, é-o sem qualquer consciência. Do outro lado, Kane e Eric Dier ameaçaram o 2-0.
O segundo tempo foi igualmente errático, com o Tottenham sempre expectante, ainda mais quando, nos últimos minutos, Cristian Romero foi expulso.
De Bruyne só entrou perto dos 60 minutos. A participação do belga não foi brilhante, longe disso. A bola viajava tanto pelo ar e viam-se tantos cruzamentos que isto nem parecia um jogo do Manchester City, o grande dominador da Premier League nas últimas cinco temporadas.
À pressão mais asfixiante dos visitantes, embora sem grandes ideias, o Tottenham respondia com contra-ataques.
Os cityzens registam duas derrotas nos últimos quatro jogos e mantém os cinco pontos de atraso para os gunners, felizes da vida com o contributo improvável dos rivais eternos de Londres. Já o Manchester United, que venceu o Crystal Palace, fica estacionado apenas a três pontos do City.