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Treinadores, preparem os vossos CV's. A Bélgica está a aceitar candidaturas para o cargo de selecionador: “Procuramos um serial winner”

A Bélgica liderou o ranking da FIFA durante quatro anos e nas três grandes provas de seleções mais recentes foi vista como uma candidata a dar nas vistas. Não deu, tendo sido eliminada na fase de grupos do Mundial do Catar. Despedido Roberto Martínez, a federação belga abriu um processo de recrutamento público para contratar um novo selecionador - e, fachada ou não, qualquer pessoa se pode candidatar

Diogo Pombo

Quality Sport Images

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O falatório em torno da seleção belga não variou muito nos últimos sete, oito anos: diante de nós, eis um sortudo país, feliz por ter à disposição uma geração de jogadores talentosos que decidiram brotar para o futebol mais ou menos ao mesmo tempo. Entre Eden Hazard, Kevin de Bruyne, Vincent Kompany, Romelu Lukaku, Ferreira Carrasco, Axel Witsel ou Thomas Vermaelen, os belgas a granjearem do seu apogeu futebolístico entre a segunda e terceira décadas deste milénio fizeram um país babar-se perante as possibilidades deles irem mais além do que a fornada de futebolistas que a Bélgica tivera nos anos 80 do século passado.

O futebol, contudo, não são nomes e respetivo potencial escritos num papel, também depende de sorte, azar, lesões, momentos de forma e esses jogadores juntos resultarem numa equipa cujo coletivo funcione. Na Bélgica, não foi o caso: ficaram-se pelos quartos-de-final dos Europeus de 2016 e 2020, pelas ‘meias’ do Mundial de 2018 e tombaram, com estrondo, na fase de grupos deste Campeonato do Mundo. No Catar, foram uma seleção desunida, desavença e com rumores de quezílias entre jogadores, ao ponto de se noticiar que várias nem falavam entre si.

Com duas derrotas e um singelo empate, Roberto Martínez abandonou o cargo de selecionador que ocupava desde 2016. Sem conquistas que satisfizessem as expectativas provavelmente desmesuradas com as quais foi convivendo, o treinador frisou que “terminou o contrato” e sairia “quer fossem campeões do mundo, ou não”. Saiu sob o manto da desilusão a 1 de dezembro e a Federação Belga de Futebol (KNVB) pouco demorou a agir para encontrar um substituto - agindo, invulgarmente, de forma pública e transparente.

Logo a 7 de dezembro, a entidade comunicou a criação de uma taskforce para “guiar a procura” do novo selecionador “na direção certa”, repetindo o “processo de seleção” que a levou a contratar Martínez, há oito anos. Depois, já esta terça-feira, deu-lhe o devido e pouco usual seguimento na roda-viva que é o microcosmos da contratação, despedimento e negociação com treinadores. “A KNVB está à procura de um treinador a full-time que saiba o que é ganhar” é uma das linhas inaugurais da descrição do perfil desejado, que coloca o check nas caixas dos processos de recrutamento vistos, por exemplo, na rede LinkedIn: “O novo selecionador nacional é um ambicioso resoluto e tem a necessário experiência internacional no topo, com o conhecido tático e capacidades pessoais certas”.

A federação belga quer “um serial winner com experiência em treinar jogadores top”, frase piscadora de olho às aptidões sociais que darão jeito ao sucessor de Martínez para lidar com uma seleção onde convocará futebolistas que poderão nem dominar o mesmo idioma - o francês, o flamengo e o alemão são as línguas oficiais da Bélgica - e os egos, como visto no Mundial do Catar, já terão um histórico de colisões frontais. “O novo treinador sabe como focar-se em criar um grupo unido” e “como ganhar troféus nas competições de topo”, lê-se já no documento em que é indicado o e-mail para o qual os candidatos devem submeter a sua candidatura.

As propostas serão aceites até 10 de janeiro de 2023. A partir daí, a tal taskforce começará o processo de seleção.