Numa era onde o digital torna praticamente impossível que alguém não tenha o mínimo rastro online, a história de Jean-François Hernandez desafiava a lógica. Jean-François era um central que fez a formação no Toulouse, onde jogou na primeira parte da carreira. Depois de passagens pelo Sochaux e Marselha, foi tentar a sua sorte no futebol espanhol. Começou pelo Compostela, passou depois pelo Rayo Vallecano e tem uma curta estadia num Atlético Madrid então na 2.ª divisão, antes de voltar ao vizinho Rayo.
Por estes dias, Jean-François não é conhecido propriamente pela sua carreira, mas sim por ser pai de quem é: de Lucas e Theo Hernandez, defesas da seleção francesa, o primeiro a jogar no Bayern Munique e o segundo no AC Milan. Lucas foi mesmo campeão do mundo em 2018, na Rússia. Os dois estarão no Mundial do Catar.
Apesar de terem nascido em Marselha, França, os dois irmãos foram maioritariamente criados em Espanha, onde o seu pai jogou. A genética falou alto e os dois fizeram a formação no Atlético Madrid.
Porém, Jean-François não estava lá para ver o crescimento dos filhos, fosse em casa ou nos campos de futebol. Quando Lucas tinha cinco anos e Theo três, saiu de casa e ambos foram criados pela mãe, Laurence Py. Falou-se de dívidas e de um novo relacionamento. Três anos depois, em 2004, Jean-François voou para a Tailândia e desde aí que ninguém sabia do seu paradeiro. Em 2019, Lucas Hernandez revelou numa entrevista que não sabia se o pai estava vivo ou morto e que este nunca mais tinha dado notícias desde o dia em que saiu de casa.
Fast forward para 2022. Uma reportagem da “France Football” encontrou Jean-François Hernandez, que não será o único (ou o verdadeiro) vilão da história. Em conversas com familiares, amigos e com a filha mais velha, Lauris, meia-irmã de Lucas e Theo, a revista gaulesa soube que depois de vários anos na Tailândia, o antigo defesa regressou a França em 2020. É vendedor e um avô dedicado.
Jean-François acabou a carreira no Rayo Vallecano
Matthew Ashton - EMPICS
Ao contrário da narrativa contada por Laurence, Jean-François Hernandez não terá abandonado os filhos e teria sido ela a proibir o ex-jogador a vê-los.
Uma ex-companheira de Jean-François sublinhou à “France Football” que Jean-François chegou mesmo a tentar a custódia dos filhos através de advogados, mas tudo se tornou “num inferno”, o que o terá levado à Tailândia, onde geriu um bar. “Ele tentou falar com os filhos várias vezes quando estava lá, mas ela [Laurence] nunca lhes passava o telefone. Ele desistiu”, diz Sonia Moldes.
A filha Lauris, que critica duramente a madrasta, diz que o pai nunca perde um jogo da seleção francesa. “Ele vê os jogos sozinho, a chorar do início ao fim. É muito difícil para ele”, conta a filha, que garante que o pai não quer o dinheiro dos filhos: “Tudo o que queremos é voltar a vê-los”. Lauris diz que, secretamente, o pai deseja que os filhos mais novos o contactem.
Quem também deixa palavras elogiosas para Jean-François na reportagem é Christophe Galtier, treinador do PSG e seu antigo colega de equipa. “Ele é uma pessoa fantástica, o oposto de tudo o que li e ouvi sobre ele nos últimos anos. Ele era uma pessoa muito orientada para a família, que sempre amou os seus filhos”, assegura o técnico.
Jean-François Hernandez tem hoje 53 anos.