Ele era um médio combativo, completo, daqueles que dão jeito ter num plantel porque podia jogar em qualquer lado, com o mesmo comprometimento. Arsène Wenger levou-o de Marselha para o Arsenal, de Londres ainda passou pelo AC Milan antes de voltar ao clube inglês, terminando a carreira em 2019 após curtas passagens pelo Crystal Palace e Getafe. Internacional francês em três ocasiões, de Mathieu Flamini ficou sempre a ideia de que poderia ter sido mais do que realmente foi, não tivessem sido as lesões arreliadoras, que ainda assim não impediram que fosse parte importante do título do Milan em 2010/11 ou considerado o jogador do ano no Arsenal em 2007/08, ele que fez mais de 250 jogos pelos gunners nas duas passagens pelo clube.
Porém, no grande esquema das coisas, é provável que numa futura biografia de Flamini o futebol passe a ser um pormenor. Durante a sua estada no Milan, o antigo jogador, agora com 37 anos, iniciou uma série de encontros com cientistas e académicos, com o objetivo de investir em tecnologia sustentável. Daí nasceu a GF Biochemicals, fundada em conjunto com um amigo, Pasquale Granata, e que o transformou num empresário de energias verdes, apostado em descarbonizar algumas das indústrias mais poluentes do mundo, um sonho que mantinha desde miúdo, quando olhava com apreensão para a quantidade de lixo que se juntava nas praias de Marselha.
É aqui que entra o ácido levulínico. Trata-se de um composto orgânico que a GF Biochemicals produz em massa a partir de resíduos agrícolas e que pode ser uma alternativa biológica e sustentável para a produção de tintas ou cosméticos, substituindo químicos derivados de energias fósseis.
“Estamos a substituir moléculas que estão obsoletas e que têm um impacto negativo no nosso planeta por estas novas moléculas que reduzem as emissões de CO2 e que são biodegradáveis e não tóxicas”, sublinhou o antigo médio numa entrevista à revista “Wired”.
À publicação, Flamini deixou o desejo de que a sua empresa ajude a diminuir as necessidades de extração de petróleo. “Temos uma plataforma tecnológica que nos permite trabalhar em várias indústrias, do bem-estar pessoal aos produtos para a casa, até à agricultura, tintas e revestimentos. Temos uma tecnologia que é verde e que torna o processo muito mais sustentável e seguro para as pessoas e para o planeta”.
Depois de anos e anos a tratar bem da bola, há outra esfera, bem maior, que Mathieu Flamini está pronto para salvar.