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Os €150 milhões do Barcelona nada puderam contra o pragmatismo do Real, que é líder isolado da La Liga

Vitória por 3-1 do Real Madrid no Santiago Bernabéu deixa os merengues isolados na liderança da liga espanhola, num jogo em que a experiência da equipa da casa quase sempre foi mais forte que o all in catalão. O Barcelona só assustou quando entraram em campo Gavi e Ansu Fati, meninos da formação numa equipa que gastou milhões no defeso para voltar a dominar. Para já, não está a correr bem

Lídia Paralta Gomes

Sergio Perez/EPA

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O all in do Barcelona poderá ter tido, esta semana, um perigoso golpe. Depois do empate na Liga dos Campeões com o Inter deixar a equipa catalã praticamente afastada da fase a eliminar da liga milionária - e aqui o termo “milionária” diz muito, porque o Barça precisa desesperadamente deles, dos milhões -, internamente caiu no jogo onde ninguém quer cair.

Em pleno Santiago Bernabéu, Xavi lançou no onze vários dos jogadores que valeram investimentos sonoros no defeso, dos mais de 150 milhões de euros batidos em transferências num movimento tão ambicioso como desesperado de Joan Laporta para voltar ao lugar dos gigantes. Estavam lá Jules Kondé, Raphinha, Robert Lewandowski. Mas do outro lado há um Real Madrid experiente, também em idade mas essencialmente na maturidade de uma equipa que joga há muito junta e onde as contratações foram cirúrgicas - Aurelien Tchouameni custou uma pipa de massa, mas vai dando razão aos que nele apostaram para substituir Casemiro. E essa maturidade, o pragmatismo ancelottiano foram a kryptonita para os cifrões catalães.

O Real Madrid entrou praticamente a ganhar, aos 12’, um golo que tem muito de Toni Kroos e do esforço do alemão, que também sabe ser operário, a não desistir do lance mesmo a sofrer falta de Busquets e a encontrar no último momento antes de cair um Vinicius Jr. a sair desmandado daquela lateral esquerda onde faz tanta miséria. Na corrida na diagonal, o brasileiro só encontrou Ten Stegen, que defendeu a primeira bola, mas esta sobrou para Benzema que, vindo de trás marcou o primeiro.

O francês há cinco jogos que não marcava e nada como um El Classico para acabar com a crise, ele que foi sempre um gato a farejar a oportunidade, que parecia estar sempre a um passo de surgir. O Barcelona tinha mais bola na 1.ª parte, mas tudo era estéril e pouco agressivo. A única chance culé apareceu aos 25’, com Lewandowski a falhar praticamente de baliza aberta. Aos 35’, em mais um lance rápido, de oportunismo, veio mais um golo do Real Madrid, com Vinicius Jr. mais uma vez na jogada, a encontrar com magia o espaço que os jogadores do Barcelona, colados a si, não lhe estavam a dar. A bola foi para o desguarnecido lado esquerdo, de onde apareceu o cruzamento atrasado para Fede Valverde, que com calma, colocação e força q.b. bateu mais uma vez Ter Stegen.

Rodrigo Jimenez/EPA

A 2.ª parte foi, durante quase todo o tempo, um festival de inconsequência do Barcelona e de controlo sem bola do Real Madrid, seguro, alinhado. Benzema quase bisava aos 52’, mas estava ligeiramente adiantado, e o encontro só mudou de tom quando Xavi deixou a vertigem, que parece até uma traição às bases e ao sangue do clube, para apostar naquilo em que o Barcelona sempre foi bom: a prata da casa.

As entradas de Ansu Fati e Gavi, dois meninos a quem não foi preciso pagar milhões para ali estarem, transformaram o jogo. Gavi encheu o meio-campo, Fati era o homem mais perigoso junto à área, com ambos a construírem o golo que deu esperança de uma reviravolta em casa do rival. A recuperação foi de Gavi, Ansu Fati ultrapassou na velocidade dois adversários e ao cruzamento respondeu Ferran Torres. Faltavam sete minutos para o fim e o Barcelona estava vivo, à custa da juventude.

Ansu Fati ainda esteve perto do golo de novo aos 87’, mas o gás do pragmatismo do Real ainda não tinha acabado, bem como os erros de abordagem da defesa do Barcelona. Já perto dos descontos, o intermitente Eric García pisou Rodrygo na área e seria o brasileiro a fechar as contas, ao fazer o 3-1 da marca dos 11 metros.

A vitória deixa o Real Madrid isolado na frente, enxotando o Barcelona para o 2.º lugar, a três pontos dos campeões em título. Os catalães têm agora o At. Madrid e a Real Sociedad à coca, num momento que pode definir muito de uma temporada que se queria de recuperação de grandeza em Camp Nou.

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