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Luís Figo diz que se candidatou à presidência da FIFA depois de ver “muita corrupção e máfia”. E não descarta avançar novamente

Numa entrevista ao britânico “The Guardian”, o antigo internacional português diz que foi convidado pela UEFA para avançar com a candidatura, em 2015, e agradece ter recuado uma semana antes das eleições, altura em que o FBI deteve vários responsáveis da FIFA. Figo vê-se “com mais responsabilidades” no futuro e garante que com “bons apoios” não dirá que não a uma futura candidatura a um cargo na cúpula do futebol, numa entrevista em que recordou a transferência do Barcelona para o Real Madrid e o Euro 2004

Lídia Paralta Gomes

Soccrates Images/Getty

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A candidatura à presidência da FIFA, em 2015, “dava para escrever um livro”, diz Luís Figo. Em entrevista ao “Guardian”, o antigo internacional português recordou vários episódios da sua carreira e do pós-futebol e assumiu que a ideia de se chegar à frente para destronar na altura Sepp Blatter na liderança do organismo surgiu através de um convite da UEFA.

"Propuseram que eu fosse candidato. Eu via que [a FIFA] estava cheia de corrupção e máfia. Sentíamos, na confederação europeia, que tínhamos de nos mexer, mesmo que não tivéssemos hipóteses. Tínhamos pelo menos de tomar uma posição”, disse ao jornalista Sid Lowe, em Madrid, onde reside. A candidatura acabaria com a desistência de Figo uma semana antes das eleições. “A minha federação ligou. Eles e a UEFA. Queriam que eu me retirasse. Em teoria, eram eles os meus apoios”, lamentou o antigo jogador que, sete anos depois, vê com alívio essa decisão, ele que inicialmente não queria desistir: “Graças a Deus, deve ter sido o destino - porque na semana seguinte o FBI entra pelo congresso da FIFA adentro e mete não sei quantas pessoas na prisão e cancelaram as eleições. Um escândalo”.

Voltar a candidatar-se a um cargo de responsabilidade nas cúpulas do futebol mundial não está totalmente descartado por Luís Figo, que na conversa com o “Guardian” diz ver-se mais numa posição de gestão e empreendedorismo do que exatamente como treinador. Contudo, nada é certo. “Quero continuar a trabalhar com a UEFA, mas de uma forma mais ativa, com mais responsabilidades”, confessa. “Se tiver bons apoios, apoios reais, e achar que posso ajudar a fazer algo com valor, acho que tenho a capacidade de fazer coisas boas pelo futebol. Se for interessante e eu me sentir útil, não vou dizer que não”, sublinha, referindo que não faz planos e que tudo está nas mãos “no destino”.

Uma transferência histórica

Meses depois do lançamento do documentário “O Caso Figo - A transferência que mudou o futebol”, da Netflix, que conta os bastidores da sua saída do Barcelona para o Real Madrid, o antigo capitão da seleção nacional assume que gostaria que a sua carreira fosse mais valorizada “como um todo e não apenas um episódio”, ainda que esse episódio tenha “marcado uma era, alterado o mercado e a filosofia do futebol”, assume.

Figo não foge às responsabilidades de ter sido ele a decidir trocar o Barcelona pelo Real Madrid mas diz que o fez também porque era “a única forma de resolver” uma situação criada pelo seu então agente José Veiga. “Na altura estava muito calmo sobre a minha posição, mas ao mesmo tempo tinha o dever de cuidar dos que trabalhavam comigo”, conta. Figo menciona que era feliz na Catalunha (“Eu tinha tudo em Barcelona”), mas ao mesmo tempo sentiu que não ia “para um clube de segunda categoria”. A decisão final, diz, prendeu-se também por sentir-se “valorizado”, num clube que lhe assegurou que seria “uma peça muito importante”. O que veio a revelar-se correto.

Depois do Real Madrid, Figo revela que esteve muito próximo do Liverpool e que teria gostado de jogar em Anfield. Mas a indecisão dos ingleses levaram-no a assinar pelo Inter, onde acabou a carreira.

E sobre bons e maus momentos, o antigo número sete da seleção garante que a final do Euro 2004 não é o pior. “Vivemos algo inimaginável, irrepetível. Nunca senti um consenso tão grande, apoio, felicidade e alegria em torno de uma seleção nacional”, diz. A derrota, aponta, foi uma daquelas coisas do futebol. “Se calhar o futebol tira-nos algo para dar de volta anos depois. Toda a gente esperava que fossemos campeões ali e depois em 2016, contra a França, ganhamos sem o nosso melhor jogador. Estás a ver?”.