No passado sábado, o futebol viveu um dos seus dias mais trágicos quando, baseando-se na rivalidade entre duas equipas indonésias, o público invadiu o campo após o jogo entre o Arema FC e o Persebaya Surabaya. O resultado do encontro não aconteceu em golos, mas em mortos: 174, pelo menos.
Javier Roca é chileno, mas treina o Arema FC. Com muitas dificuldades, o técnico falou do incidente em declarações à “Cadena SER”. “O que vence é o melhor, e quem perde deve morrer. É tempo de refletir”, disse Roca, consciente do quão próximas estão as suas palavras do que presenciou no fim de semana. Em golos, tão supérfluos nesta ocasião, a equipa da casa perde por 3-2 com os visitantes.
A tragédia terá acontecido por causa de uma rivalidade futebolística na ilha de Java. Para além das 174 vítimas mortais confirmadas, houve centenas de feridos. “Estou mentalmente destroçado. Sinto uma carga muito forte, responsabilidade, inclusive. Os resultados determinam o que se passou. Se tivéssemos empatados, isto não tinha acontecido”, tenta explicar o treinador chileno.
A barbárie não aconteceu apenas no relvado. “Entraram cerca de 20 pessoas no balneário. Faleceram quatro”, conta Javier Roca, que admite nunca ter esperado uma batalha campal a este nível. “Nunca pensámos que aconteceria isto, os jogadores tinham uma boa relação com os adeptos. Fui para o balneário e alguns jogadores ficaram em campo. Ao voltar da conferência de imprensa, dei com a tragédia (…). Vários adeptos morreram nos braços dos jogadores”, conta Javier, ciente de que refere coisas inesquecíveis.
Para o treinador, “não houve apenas um culpado da tragédia”. “Ficou demonstrado que o estádio não estava preparado, não esperavam um caos desta magnitude. Foi uma avalancha. Nunca se tinha passado algo assim no estádio e este colapsou com a quantidade de gente que queria entrar. Penso que a polícia fez pouco. (…) Vendo as imagens, talvez pudessem ter usado outras técnicas”, explicou, acrescentando que as ambulâncias demoraram a chegar. “O estádio fica retirado e estamos numa cidade relativamente pequena”, diz Javier Roca.
A Liga Indonésia está reunida, a investigar a situação. Todos os dirigentes estão presentes para resolver o que é passível de ser resolvido, o quanto antes. Javier Roca vive e trabalha no Sudoeste Asiático há 20 anos, mas avisa que estes episódios estão longe de ser um exclusivo daquela parte do mundo. “Não há qualquer resultado de qualquer jogo, por muito importante que seja, que valha uma vida”, termina de forma veemente o treinador chileno.