Em abril de 2021, a Superliga europeia de futebol teve uma vida formal curta. Foi anunciada, sem muita pompa e discutível circunstância — na véspera de uma reunião do Comité Executivo da UEFA, justamente para referendar a já acordada reforma da Liga dos Campeões —, a 18 de abril e três dias depois já nove dos 12 clubes fundadores tinham anunciado a saída do projeto. Só Juventus, Barcelona e Real Madrid mantiveram-se.
No entanto, a ideia nunca saiu da cabeça nem do discurso de muitos dos seus defensores. Um dos principais é Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, o homem que foi à televisão noturna espanhola defender o projeto quando este estava a ser fortemente criticado. Na assembleia geral de sócios do clube espanhol, Florentino voltou a explicar os seus argumentos.
Segundo o dirigente, “para resolver um problema é preciso, primeiro, reconhecer” que existe um. E qual o problema? “O futebol está doente, está a perder a liderança. Os jovens cada vez têm menos interesse, exigem um produto de qualidade que não é oferecido pelas atuais competições europeias”, considera Florentino Pérez.
Um dos principais culpados, entende o espanhol, é a UEFA. Florentino acusa a entidade máxima do futebol europeu de “aumentar a quantidade de jogos entre equipas intrascendentes” nas competições que organiza, o que “acelera a decadência” do jogo no continente. No entender de Pérez, esses torneios “devem mudar para oferecer os melhores encontros”, conseguindo “devolver o futebol ao seu lugar”.
Fazendo uma comparação com o ténis, Florentino diz que “Nadal e Federer jogaram 40 vezes durante estes anos”, mas “o Real Madrid só defrontou o Liverpool nove vezes em 67 anos". “Que sentido tem privar os adeptos destes encontros? Com as regras do futebol, só teríamos visto Nadal contra Federer três vezes”. O dirigente entende que o novo modelo da Liga dos Campeões, em vigor a partir de 2024, só “servirá para afastar mais os adeptos e acelerar a decadência do futebol”.
Passando das comparações com o ténis para paralelismos com a NFL, Florentino disse que, no futebol americano, as receitas audiovisuais “superaram as da Liga dos Campeões”, o que significa que “o futebol está a perder a batalha”. “Segundo a Forbes, o Real Madrid é o 13.º clube mais rico do mundo e antes éramos o quinto”, lembrou.
As palavras de Florentino foram aplaudidas de pé pelos sócios do clube a que preside, mas nem todos concordaram com as suas palavras. Javier Tebas, presidente da La Liga, é um dos mais conhecidos e vocais opositores da Superliga e voltou a recorrer às redes sociais para mostrar a sua oposição.
A conta de Twitter de Tebas tem várias publicações recentes contra as ideias de Florentino. Em resposta ao discurso de Pérez na assembleia do Real Madrid, o máximo responsável da liga espanhola escreveu que Florentino “confunde peras com maçãs” por comparar o futebol a “outras culturas e modalidades”. “A análise de mercado e de dados dele é de balcão de bar”, acusou Javier Tebas.
"A história reconhecerá FP [Florentino Pérez"] como um dos melhores gestores de clube, mas ser um grande gestor de clube não implica ser um grande gestor de competições. A partir do desconhecimento, FP lança argumentos que podem ‘matar’ os outros clubes", sentenciou, noutro Tweet, Tebas.