Sendo utilizados pela generalidade da população, é natural que os desportistas também recorram aos medicamentos para dormir. No entanto, a utilização excessiva destes fármacos está a preocupar a Associação de Futebolistas Profissionais (PFA) de Inglaterra. Várias figuras ligadas ao futebol têm confirmado a adição.
Ryan Cresswell, antigo jogador e atual técnico do Sheffield FC, disse ao “Telegraph” que a crise provocada pelos comprimidos atingiu o futebol “a todos os níveis”. Cresswell assume a dependência com o intuito de adormecer, mas relata casos em que os químicos são misturados com álcool e usados em festas.
O Tramadol, anestésico poderoso por trás de graves histórias de adição no futebol, vai ser banido pela Agência Mundial Anti-Doping. No entanto, não há qualquer intenção de fazer o mesmo às chamadas “drogas Z”, muitas vezes prescritas aos futebolistas para que durmam bem depois de jogos plenos de adrenalina. A PFA pede que os jogadores viciados contem as suas histórias e ajudem outros.
Cresswell conta: “Tenho ouvido histórias do que os jogadores andam a fazer com as cápsulas para dormir e o objetivo não é esse. Isso tem de ser confrontado”. “Tenho recebido muitos telefonemas (…). Como jogador, colocas pressão sobre o médico para que este te dê mais. Ele apenas vai dar-te uma quantidade específica que considera saudável, mas tu tentas obter mais, online ou de qualquer outra forma”, diz.
Michael Bennet é médico e diretor para o bem-estar da PFA. “Mesmo em pequenas doses, os medicamentos prescritos podem criar hábitos. (…) Ajudamos regularmente futebolistas que desenvolveram comportamentos aditivos ou dependências. Isto pode incluir (…) analgésicos ou comprimidos para dormir. (…) A PFA está disponível para ajudar”, diz o especialista.
Na última década, diz o “Telegraph”, vários jogadores foram filmados a inalar balões com óxido de nitrato, o chamado “gás hilariante”. Este produto é usado nalguns países para anestesiar dentes, mas é igualmente uma droga recreativa que provoca euforia. Os comprimidos para dormir têm seguido esse caminho, particularmente nos últimos três anos.
Ex-estrelas da Premier League, como Rio Ferdinand, Phil Neville ou Craig Bellamy, já admitiram que drogas como o Zopiclone são comuns no desporto como auxiliares do sono. Harry Shapiro, da associação DrugWise, não se mostra surpreendido com a utilização do produto para outros fins. “Em situações de pressão específica (…), as pessoas encontram várias maneiras de relaxar”, diz Shapiro.
Ryan Cresswell refere que “um comprimido passa a dois, depois três”. “É um círculo vicioso”, diz o atual técnico, que acrescenta: “[O futebol] vai do topo ao fundo, do fundo ao topo”. Os comprimidos “não preocupam as pessoas” porque são apenas algo que os jogadores usam para adormecer.
“Em quase todos os casos”, diz Cresswell, “os futebolistas conseguem os comprimidos para dormir através dos médicos dos clubes ou pelos médicos de família”. O antigo jogador, que confessa ter passado pelo inferno, não se importaria de visitar os clubes para falar da sua experiência. “A minha vida era ingovernável”, confessa o técnico dos amadores do Sheffield FC.