Antes do jogo particular contra o Senegal, os internacionais iranianos terão feito questão de protestar contra a repressão das mulheres no seu país, especialmente após a morte de Mahsa Amini, uma mulher de 22 anos que morreu num hospital após ser detida pela chamada ‘polícia moral’, por ter quebrado o código de vestuário islâmico.
Os jogadores usaram casacos na entrada em campo e no habitual momento da escuta dos hinos nacionais, em que se alinharam em campo, alegadamente para cobrirem os símbolos do Irão - no jogo anterior, frente ao Uruguai e realizado também na Áustria, surgiram apenas com a camisola do equipamento. O gesto está a ser noticiado como uma histórica reivindicação contra a violência de género.
Frente ao Uruguai, na Áustria, os jogadores iranianos permaneceram cobertos enquanto os hinos de ambos os países se ouviam. O jogo já não era um jogo. Zobeir Niknafs, do Esteghlal, de Teerão, rapou o cabelo em solidariedade com os protestos e com as mulheres que, elas próprias, estavam a rapar o cabelo. Mehdi Taremi, avançado do FC Porto, foi titular na partida. Ao mesmo tempo, clubes iranianos como o Sepahan ou o Foolad proibiram os seus atletas de emitirem opiniões políticas.
Sardar Azmoun, jogador do Bayer Leverkusen, esteve entre aqueles que se manifestaram em campo. Já antes o avançado tinha deixado mensagens de protesto na sua conta do Instagram: “O derradeiro castigo é ser expulso da equipa nacional, um preço baixo a pagar por um simples cabelo das mulheres iranianas. Deviam ter vergonha de matarem tão facilmente uma pessoa. Viva as mulheres iranianas!”. A publicação acabaria por ser retirada, conta o “The Telegraph”.
Ali Karimi, antigo jogador do Bayern de Munique, foi bastante ativo na condenação das autoridades locais pela morte de Mahsa: “Não procuro qualquer posição ou poder político. Estou apenas à procura de paz, conforto e bem-estar para todos os iranianos”. Karimi publicou dezenas de mensagens pró-protestos e anti-regime. De acordo com a “Forbes”, a sua atividade fez com que a Guarda Revolucionária emitisse um mandato de captura e Karimi terá mesmo fugido do Irão.
As autoridades iranianas terão interferido na liberdade de comunicação de jogadores e equipa técnica. O selecionador, Carlos Queiroz, preveniu os jornalistas de que apenas poderiam fazer perguntas sobre futebol, na habitual conferência de imprensa. Mesmo à distância, a influência dos radicais de Teerão fez-se sentir e foi, de forma controversa, seguida pela própria polícia austríaca, que deteve dois manifestantes que mostravam o seu apoio a Mahsa Amini.
Segundo o mesmo jornal inglês, para dificultar a partilha nas redes sociais de vídeos dos protestos massivos em várias cidades iranianas, as autoridades restringiram o acesso à internet em múltiplas províncias. A notícia seria confirmada pelo NetBlocks, um observatório que estuda o Twitter, bem como fontes do órgão de comunicação social no Irão.