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Van Gaal quer “base científica” para penáltis na seleção e afastou um guarda-redes (especialista) que se recusou a entrar numa experiência

O titular do Norwich City não fará parte do conjunto eleito por Louis van Gaal para o Mundial do Catar. O selecionador disse, numa conferência de imprensa antes do jogo com a Polónia, que o experiente guarda-redes se tinha recusado a participar num teste científico que o técnico pretende implementar como preparação para o torneio

Carlos Luís Ramalhão

Tim Krul e Louis Van Gaal a trocarem um abraço em 2014, no Mundial do Brasil

Soccrates Images

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Tim Krul, guarda-redes titular do Norwich City, do Championship (segunda divisão inglesa), ter-se-á recusado a participar numa experiência científica sobre a marcação de grandes penalidades, promovida pelo experiente selecionador neerlandês, Louis van Gaal. A atitude ter-lhe-á custado um lugar entre os convocados para o Mundial do Catar.

Na conferência de imprensa anterior ao jogo frente à Polónia, a contar para a Liga das Nações, Van Gaal – que, segundo o jornal neerlandês “AD”, teve um conflito recente com vários jornalistas – anunciou a recusa do guardião do Norwich em participar no teste.

Em 2014, no Campeonato do Mundo, Krul ficou conhecido por ter defendido dois penáltis, nos quartos de final, frente à Costa Rica. Na altura, era Van Gaal o treinador dos Países Baixos e Krul foi colocado em campo no último minuto do tempo extra, precisamente pela reconhecida habilidade com as grandes penalidades.

A partir daí, o neerlandês foi aumentando a reputação no frente a frente com os adversários, nesse muito particular momento de angústia. Krul acabaria por brilhar ao serviço do Norwich, ajudando os canaries a baterem o Tottenham numa eliminatória da Taça de Inglaterra, em 2020. Outras vítimas famosas das suas paradas de grandes penalidades foram Marcus Rashford e Anthony Martial, do Manchester United.

Sobre a recusa do guarda-redes, Van Gaal disse: “Krul ligou-me para dizer que não iria. Pensei que era uma pena, porque eu sei que ele defende a maioria dos penáltis, em termos estatísticos. Não há futuro para ele na ‘Laranja’, porque ele não quis vir. É a consequência da sua decisão”.

Krul tem 15 internacionalizações pelos Países Baixos, que procuram estabilidade na baliza desde que a lenda Edwin van der Sar pendurou as luvas. A última partida de Krul pela “laranja” foi um amigável frente à Escócia, em 2021. De acordo com o jornal “Norwich Evening News”, num fórum de adeptos do clube, o neerlandês deixou claro que queria estar num segundo Campeonato do Mundo.

O MÉTODO DO VOLEIBOL

Louis van Gaal quer usar um novo método de treino para preparar a participação no Mundial. O veterano pediu à Federação Neerlandesa de Futebol a contratação de Peter Murphy, antigo técnico da seleção de voleibol dos Países Baixos. O objetivo é que este treine especificamente os guarda-redes, preparando-os para defender penáltis. Um dos pontos do treino terá a ver com métodos para distrair os adversários no momento da execução das grandes penalidades.

O implacável selecionador explicou a sua ideia: “Sempre pensei que podemos treinar um penálti. Não o momento ou a pressão, mas a automatização do processo, que pode dar confiança. Convenci os rapazes de que eles podem fazer algo com isso, que os jogadores nos clubes treinem penáltis. Não podemos mudar a política de treino nos clubes deles, mas podemos pedir-lhes que pratiquem os seus pontapés da marca de grande penalidade”.

Citado pelo “AD”, o antigo técnico de Barcelona e Manchester United disse: “Agora, quero uma base científica. Mais confirmação. Isso deve dar-nos vantagem quando chegarmos aos penáltis. Claro que isso não significa que vamos ganhar a série”.

“Devemos preparar-nos agora porque, durante o Mundial, não haverá tempo. Num torneio como o Mundial os penáltis podem ser um detalhe absolutamente decisivo e, por isso, devemos prestar-lhes a máxima atenção”, disse van Gaal, explicando a opção por Murphy: “Porque estudou isso. Não estudou voleibol, mas outra ciência, e tem o conhecimento disso”. “Somos o primeiro país a fazer isto com uma base científica e provavelmente outros países também o farão”, previu van Gaal.