Foi uma das negociações que marcaram a janela de transferências deste verão até ao último segundo: Raúl de Tomás ficaria no Espanyol ou iria assinar pelo Rayo Vallecano? Depois de um último dia de mercado em que o negócio ficou por fechar e de um episódio que terminou na esquadra, devido a uma queixa do presidente do Rayo, Martín Presa, que acusou os agentes do jogador de agressão, o clube de Madrid pagará 8 milhões de euros ao Espanyol, que em 2019 pagou mais de 20 milhões ao Benfica pela transferência.
Um negócio questionável a nível financeiro: dos 70 milhões de euros da sua cláusula de rescisão que o Espanyol exigiu no início do verão, o clube recebeu quase nove vezes menos. Mas também um negócio que, a nível desportivo, deixa o jogador com a certeza de que não será um dos convocados para o Mundial do Catar.
É que Raúl de Tomás assina agora, mas não regressa aos relvados imediatamente. Até janeiro, após o Campeonato do Mundo, o atacante treinará com os seus novos colegas de equipa sem poder jogar, já que o período de inscrições já acabou. Esta é a contratação mais cara da história de Rayo, que ficará com o jogador até junho de 2027.
O que é que leva um jogador a optar por não jogar para mudar de clube e deitar janela fora a oportunidade de jogar um Mundial? Começou tudo durante a pré-temporada, quando Diego Martínez, treinador do Espanyol, disse ao clube que não queria o avançado por ele não ser adequado às exigências defensivas do seu modelo de jogo. Segundo o treinador, Raúl de Tomás, que marcou 45 golos em 89 jogos nas duas últimas temporadas, teria que pressionar após perder uma bola, mas não estava disposto a isso.
Começou a procura por um novo clube, com os empresários do jogador a informar que havia interesse da parte do Bayern e o Real Madrid. No final, só um clube pareceu estar disposto a receber o jogador. O clube que agora o contrata.
Termina a negociação, mas não acaba o clima de tensão entre o jogador e o Espanyol. Anunciada a transferência, o clube fez uma publicação nas redes sociais onde se vê uma fotografia dos adeptos acompanhada pela frase “acima de tudo e todos”. Raúl de Tomás não gostou, partilhou essa publicação e respondeu ao agora antigo clube.
“Entristece-me ver a despedida que dão a um jogador que fez história neste clube em dois anos e meio", começou por dizer. “Todos sabemos que o populismo vence, é o ataque fácil. Mas a única coisa que vejo nesta mensagem é cobardia, falta de ética e mediocridade, querendo esconder a má gestão das pessoas incompetentes que dirigem este grande clube nos escritórios".
O jogador terminou com uma mensagem positiva para os adeptos: “Adoro-vos, adeptos. Adoro-te, Espanyol. Para sempre agradecido”.
Esta não é a primeira vez que Raúl de Tomás tenta deixar o clube catalão. Num mau momento, em 2020, que culminou com a descida de divisão, o jogador tentou manter-se nos maiores palcos do futebol, mas acabou por se desiludir quando percebeu que nenhum clube tinha interesse em contratá-lo. Foi nessa altura que mudou de agente e seguiu no mesmo plantel.
O que se seguiu foi um dos melhores momentos da sua carreira. Com 23 golos durante a época 2022/21, foi um dos grandes responsáveis pelo rápido regresso do Espanyol à La Liga. Já na primeira divisão, continuou num bom momento e foi chamado por Luis Enrique para integrar a equipa nacional espanhola. E continuou a marcar, contra Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid inclusive.
E quando tudo parecia correr bem, correu mal. Com os altos e baixos que marcavam a sua relação com o staff e direção do clube a serem cada vez mais baixos, a única solução foi a saída pouco airosa, para um clube onde até já brilhou, em 2017/18 e 2018/19, na altura emprestado pelo Real Madrid. Daí sairia para uma passagem pouco feliz pelo Benfica.