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Esperas de 35 horas, desmaios, computadores com Windows 95 a serem atualizados: a odisseia para renovar bilhetes de época no Rayo Vallecano

A obrigatoriedade de ir levantar fisicamente os lugares anuais, a desorganização e falta de pessoal levou a que os adeptos do clube de Madrid esperassem longas horas — alguns mais do que um dia — para garantir um assento. Falámos com três deles, que descrevem tudo como uma "humilhação" feita pelo presidente do clube, Raúl Martín Presa, aos adeptos de um emblema que acumula casos indignos de quem compete numa das melhores competições do mundo

Pedro Barata

Angel Martinez/Getty

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Paulina Riquelme tem 44 anos e trabalha numa seguradora. Como tantas outras pessoas que apoiam o Rayo Vallecano, no sábado de manhã juntou-se a uns amigos que estavam desde as 7h00 no estádio do clube de Madrid para conseguir um bilhete de época para a temporada 2022/23. O Rayo já tinha disputado duas jornadas da La Liga — com excelentes resultados, empatando em Camp Nou e ganhando, também em Barcelona, ao Espanyol —, mas só naquele dia 20 de agosto abria o prazo para recolher os cartões que davam acesso a toda a época de futebol em Vallecas.

O preenchimento da papelada de quem renovasse o bilhete anual podia ser feito via internet, mas a recolha do cartão tinha de ser presencial. A juntar a isto, todos os que quisessem comprar lugar novo ou mudar de assento no estádio só o podiam fazer fisicamente no estádio e não por via digital.

Perante esta anacrónica necessidade, quando Paulina chegou ao recinto já "a fila dava a volta inteira ao estádio", conta à Tribuna Expresso. Os adeptos tinham começado a chegar de madrugada, mas "a fila não avançava", lembra José García Salgado, repositor de armazém de 34 anos.

O tempo ia passando e o calor "sufocava", adjetiva Sergio Rojo, de 33 anos. O dia deu lugar à noite, a lua voltou a dar lugar ao sol e a fila pouco andava. Quando o domingo já entrava nas suas últimas horas, por volta das 20h, Paulina aproximou-se finalmente de uma das três bilheteiras que estavam a funcionar.

Umas "35 horas depois de ter chegado ao estádio", tinha já bem perto a possibilidade de obter um bilhete de época para si e para o seu filho. Mas o corpo disse "basta": "Tive um colapso, devido à noite em branco e à ansiedade de tantas horas. Felizmente havia um médico, Javi, perto de onde eu estava na fila e ajudou-me a recompor-me. Consegui os bilhetes, mas é inaceitável estar 35 horas, sofrer uma quebra de tensão, desmaiar e precisar do apoio improvisado de um médico para conseguir um simples cartão", diz-nos, indignada, uma das milhares de protagonistas da odisseia de renovação dos abonos (bilhetes de época) em Vallecas.

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