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Não é só o Barça a contas com o teto salarial da La Liga: as dívidas de Almería e Bétis também não os deixam inscrever jogadores

O Barcelona ainda não pôde inscrever atletas como Raphinha, Koundé ou Lewandowski. Outros clubes, como o Bétis e o Almeria, vivem o mesmo problema, devido à incapacidade de cumprir com a medida imposta pela Liga Espanhola, que arranca esta sexta-feira com o Osasuna-Sevilha (20h, Eleven Sports1)

Carlos Luís Ramalhão

Europa Press Sports

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O teto salarial imposto pela La Liga está a levar os clubes espanhóis à loucura. O Barcelona ainda não pôde inscrever jogadores como Raphinha, Koundé, Christensen, Kessié ou, quiçá o mais preocupante, Robert Lewandowski. Também Dembelé e Sergi Roberto, que renovaram contrato com o clube, não puderam ser inscritos.

Mas, já esta sexta-feira, o clube catalão anunciou a quarta alavanca económica - ou palanca, como lhe chamam os espanhóis - e anunciou a venda de 24,5% da Barça Studios, empresa que criou para explorar os seus conteúdos digitais, à Orpheu Media. Entre a alienação deste tipo de percentagens ou de futuros ganhos com direitos televisivos, o Barcelona já terá garantido mais de €700 milhões para cumprir com os requisitos financeiros impostos pela La Liga, que arranca neste dia.

Por outro lado, o mais modesto Almeria tem apenas 16 jogadores inscritos na principal divisão do futebol espanhol. Recebe, no domingo, o Real Madrid. Em Sevilha mora o jogador mais velho do campeonato, Joaquín Sánchez, de 41 anos. É um histórico do Bétis, mas, até ao momento, não pôde ser inscrito para disputar a primeira jornada da competição. O clube tem apenas 18 jogadores disponíveis para defrontar o Elche, na segunda-feira. Entre os não-inscritos pelo Almeria está o português Guilherme Guedes.

Há um furacão financeiro a passar por Espanha e não espalha notas pelo caminho. Grande parte do futebol profissional espanhol parece ter sido incapaz de ajustar as suas contas, respeitando as imposições da Liga. Na passada primavera, fontes do organismo informavam a comunicação social de que mais de uma dezena de equipas ultrapassavam o limite salarial em incumprimento do controlo económico imposto em 2013, para evitar os gastos exagerados dos clubes.

Explica o “El País”, de forma resumida, que a La Liga, para fixar o limite salarial de cada clube, audita os empréstimos, a bilheteira e os patrocínios de cada entidade. Calcula-se uma média dos benefícios por transferência, nos últimos três anos. A estes dados, a Liga subtrai os gastos estruturais e não desportivos e é a diferença que fixa a massa salarial de cada equipa, que inclui o plantel principal, a equipa técnica, filiais e formação.

No passado recente, a empresa que gere o fundo CVC, a que 18 dos 20 clubes acordaram que a La Liga vendesse, em conjunto, uma percentagem dos direitos televisivos (as exceções foram o Real Madrid e o Barcelona), permitiu disfarçar a situação. É uma linha de crédito através da qual os clubes receberiam €2.100 milhões que seriam devolvidos, com juros baixos, em 40 anos. O Bétis, por exemplo, gastou no último verão a totalidade das verbas provenientes do acordo com a CVC.

O “El País” escreve que os clubes têm arrastado estes problemas devido à sua menor capacidade para gerar lucros desde o início da pandemia do coronavírus, em 2019/20. A crise agravou-se com o estancamento de uma atividade que era básica em anos anteriores: a venda de jogadores no mercado de transferências. Prevê-se que será apenas na temporada 2023/24 que poderá começar a notar-se alguma normalização.

O jornal “El Confidencial” explica que os clubes de futebol vivem numa bolha económica e poucos são os que pensam no futuro das entidades. Há um empurrão constante para a frente, que faz prever um futuro de austeridade. Até que a bomba financeira expluda, as equipas de futebol parecem continuar iguais ou pior, diz a publicação espanhola.

Na moda continuam as tais palancas financeiras. O Bétis – como o Barcelona, com os métodos acima descritos – hipotecou a cinco anos os empréstimos e a venda de bilhetes. A proposta feita depende da validação da La Liga.

O clube andaluz prepara a venda de uma percentagem dos direitos de empréstimo e da bilheteira para que possa inscrever as contratações. De acordo com “El Confidencial”, este movimento, pensado a partir de cima, da direção, apenas acontecerá se os sevilhanos não conseguirem vender os futebolistas necessários para operar no mercado.

O próprio Ángel Haro, presidente do Bétis, deixou claro, na apresentação de Luiz Henrique, que o clube pretende “capitalizar empréstimos recorrentes numa proporção” que permita que “a massa salarial seja ajustada ao nível do plantel”.

Agora, o espetáculo tem de continuar.