Perfil

Futebol internacional

É ou não perigoso cabecear uma bola de futebol?

Inglaterra vai banir o jogo de cabeça nos escalões mais jovens. Especialistas falam em medida “corajosa”, “razoável” e um “alerta que precisa de investigação adicional”. Em Portugal, ainda não existem orientações ou recomendações

Hugo Tavares da Silva

Shaun Botterill

Partilhar

Quando voltarem aos treinos de futebol em Inglaterra, os meninos e as meninas até aos 12 anos vão aprender e aperfeiçoar o seu jogo com menos uma ferramenta: o cabeceamento. A Associação de Futebol (FA) do país anunciou, em meados de julho, a proibição do jogo de cabeça dos sub-12 para baixo. É um teste, aprovado pelo International Board, que poderá ganhar carácter definitivo a partir de 2023/24. A principal razão prende-se com a relação que alguns estudos vêm sugerindo entre demência e o futebol profissional, isto é, alguns tipos da doença têm sido diagnosticados e verificados em ex-futebolistas. Uma das grandes dúvidas, ainda por comprovar cabalmente, é o impacto que tem no cérebro a repetição dos cabeceamentos.

A decisão surge na sequência do anúncio da Associação Escocesa de Futebol, que foi pelo mesmo caminho em 2020, e das tais investigações, semeadas pelo diagnóstico de cinco elementos da seleção inglesa de 1966 e pela história de Jeff Astle, uma lenda do West Bromwich Albion dos anos 60 e 70. O antigo avançado e aclamado “The King” morreu em 2002, aos 59 anos, devido a uma doença neurodegenerativa. Nessa altura definiu-se que foi o ato de cabecear repetidamente a bola de couro a provocar a sua morte, catalogando-se como ‘doença industrial’. Supostamente, era o primeiro caso no futebol. Astle foi diagnosticado com Alzheimer, mas, em 2014, um investigador analisou outra vez o seu cérebro e concluiu que sofria de Encefalopatia Traumática Crónica (ETC), tradicionalmente chamada demência pugilística.