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Pep Lijnders, o ex-FC Porto que lidera o departamento português do Liverpool, abriu o livro: “O que nós queremos do Darwin é que ele lute”

O neerlandês que é fluente na língua portuguesa considera que o Liverpool conseguiu os dois melhores jogadores das duas últimas Ligas: Luis Diaz e Darwin Nuñez. Lijnders está convicto de que o ex-Benfica vai mudar a dinâmica da equipa de Klopp

Carlos Luís Ramalhão

Andrew Powell/Getty

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Homem fluente na língua de Camões, o neerlandês Pep Lijnders, adjunto de Jürgen Klopp no Liverpool e antigo elemento da equipa técnica do FC Porto, mostra-se orgulhoso por duas contratações em particular: “Luis Díaz era o melhor jogador da Liga Portuguesa e conseguimo-lo. Depois de ele sair, Darwin Nuñez era o melhor jogador da Liga Portuguesa e conseguimo-lo”.

À margem do lançamento do seu livro, “Intensity”, a história da campanha impressionante dos reds em 2021/22, Lijnders teve uma conversa com o "The Athletic" em que se refere amiúde à relação especial com Portugal.

O neerlandês não nega que o próprio clube tem aumentado as ligações ao país responsável por moldar a sua própria filosofia de treino. “O Darwin estava na nossa lista e nós temos um departamento português que assiste a todos os jogos”, contou o próprio Jürgen Klopp, brincando com a dificuldade de ver jogos do Benfica pelo facto de Lijnders e do seu colega, Vítor Matos, serem ambos portistas.

Matos, o treinador português de desenvolvimento de elite, juntou-se ao amigo depois de deixar o FC Porto, em 2019. Ambos têm um conhecimento enciclopédico da Primeira Liga, o que se tornou extremamente valioso nos negócios de Diaz e de Nuñez.

O departamento tem um reforço. O novo diretor-desportivo, Julian Ward, trabalhava para a Federação Portuguesa de Futebol como chefe de análise e scouting antes de se tornar olheiro do Liverpool para Portugal e Espanha. Segundo o "The Athletic", Ward tem uma impressionante rede de contactos na Península Ibérica.

Aquando do processo de contratação de Díaz, em que Ward esteve envolvido, um episódio insólito aconteceu quando o negócio já era iminente, conta Ljinders: o técnico estava na Áustria, numa viagem para esquiar com a família, enquanto Ward estava ocupado a tentar chegar a acordo com o FC Porto. O neerlandês sofreu uma queda valente e ficou aliviado por conseguir chegar inteiro ao hotel. Nessa altura, segundo o relato de Lijnders, Ward terá ligado para dizer: “Tu [Pep] e o Jürgen tëm de falar com o Luis Díaz daqui a cinco minutos. Chegámos a acordo com o Porto, mas o Tottenham também está interessado”.

“Esse dia foi de loucos”, conta o neerlandês, referindo uma videoconferência com Klopp, Ward, Luis e o seu agente. “A conversa atrasou-se uma hora e quando foi retomada eu já estava na cama. Recebi uma mensagem a dizer ‘Pep, tens de participar na chamada’. Saltei da cama e vesti uma camisa para falar com o Luis”, acrescenta.

Andrew Powell/Getty

Ainda sobre a chegada de Diaz, Lijnders admite: “Fiz muita tradução”. “O desejo de o Luis se juntar a nós era evidente. (…) Quando soubemos que tínhamos ganhado a corrida [ao Tottenham] para assinar com ele eu era a pessoa mais feliz do mundo. (…) Fui comprar a mais cara garrafa de vinho tinto que consegui encontrar. O meu sentimento era de que precisávamos do rapaz como de água num deserto. (…) Luis era um lutador e alguém que podia jogar imediatamente por nós. Precisávamos de jogadores com energia”, contou o técnico.

Por falar em energia, o neerlandês desfaz-se em elogios à de Darwin Nuñez: “É um [jogador] que, num jogo, pode criar quatro oportunidades. (…) Todos podem ver o que ele pode oferecer”.

“As novas contratações têm sempre de adicionar algo que não temos ou dar-nos alguma coisa em funções que podemos mesmo melhorar. O futebol é sempre assim”, explica Pep, acrescentando: “O que nós queremos do Darwin, a coisa mais importante, é que ele lute, que pressione, que crie uma boa ligação com os outros. O resto virá para ele”.

O facto de Lijnders ser fluente em português tem dado o seu contributo para o desenvolvimento das relações no plantel. O neerlandês admite que tem sido intérprete no centro de treinos, para ajudar Klopp a passar informação a Nuñez, que está a começar a aprender inglês. O mesmo já tinha acontecido com Díaz, mas, com Darwin, Pep diz que viu “fogo nos olhos” do uruguaio. “Precisamos de olhar alguém nos olhos para sentir o que eles estão a pensar”, opinou Lijnders.

Em 2020, o Liverpool contratou Diogo Jota, considerado um dos maiores talentos portugueses da atualidade. Rendeu 45 milhões de libras àquele que – ainda – é o mais português dos clubes ingleses, o Wolverhampton. Este verão, chegou Fábio Carvalho, o adolescente luso-britânico que representa Portugal na seleção de sub-21.

O "The Athletic" lembra que, até ao início de 2022, o clube de Merseyside não tinha contratado qualquer atleta diretamente a um clube da Liga Portuguesa. Agora, duas das cinco maiores contratações da história do Liverpool provieram do campeonato nacional, embora sejam ambos sul-americanos.

“É um grande elogio à Liga Portuguesa. Eles produzem jogadores que influenciam sempre o clube para o qual vão, pelo menos os melhores. Crédito ao scouting e ao treino que desenvolve jogadores lá. O nível é alto”, defende Pep Lijnders, lembrando que os reds defrontaram o Benfica de Darwin na Liga dos Campeões da época passada. “OK, eis alguém que precisamos de manter debaixo de olho”, pensou o neerlandês quando viu o uruguaio jogar.