O FC Porto estava longe de ser uma equipa menor ou desconhecida, afinal de contas era o vencedor da Taça UEFA e detentor de um conjunto entrosado, bem trabalhado, com gente que prometia dar o salto para mais endinheiradas ligas. O Manchester United estava longe do melhor momento da longa era Sir Alex Ferguson, em transição entre o auge da class of 92, marcado pela noite mágica de Barcelona em 1999, e o domínio de Ronaldo, Rooney e companhia.
Ainda assim, naquele embate dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões 2003/04, não havia dúvidas sobre quem era o favorito. Na primeira mão, o campeão inglês em título viajou a casa do vencedor da liga portuguesa armado com Ruud van Nistelrooy, Paul Scholes ou Roy Keane, mas foi um avançado sul-africano o rei da noite.
Aos 29', Benni McCarthy correspondeu da melhor forma a um cruzamento de Alenitchev, antecipando-se a um passivo Gary Neville. O olhar assassino e os gestos letais eram imagens de marca do rei dos artilheiros daquela I Liga 2003/04, que naquela noite partilhou dianteira com o muito talentoso Carlos Alberto.
Um compatriota de McCarthy, Quinton Fortune, fez o 1-1 com o qual chegou o intervalo. Na segunda parte, um jovem chamado Cristiano Ronaldo entrou, mas foi outro avançado a voar sobre os centrais. Aos 78', McCarthy foi ao céu do Dragão elevar-se sobre a defesa do Manchester United, desferindo um cabeceamento imponente que levou o FC Porto para a segunda mão na frente por 2-1.
Na segunda mão, os campeões da Taça UEFA tiveram de sofrer em Old Trafford. Com Ryan Giggs em destaque, o mítico estádio caiu em cima dos azuis e brancos, colocando Paul Scholes o Manchester United na frente da partida — e da eliminatória, devido à regra dos golos fora.
O duelo parecia estar a cair para o lado inglês, até que o FC Porto, ao minuto 90, dispôs de um livre à entrada da área. Benni McCarthy, embalado pelos 21 golos que já tinha feito naquela campanha, preparou-se para bater.
O sul-africano rematou forte e colocado. Tim Howard fez uma defesa incompleta, fiel à maldição que por aqueles anos pairava sobre os escolhidos por Ferguson para defender a baliza. E, mais rápido e astuto que todos, Costinha aproveitou a recarga para colocar o FC Porto nos quartos-de-final e provocar a mítica corrida de José Mourinho.
Por muito que já tivesse acontecido Sevilha, ainda que aquela equipa lendário já estivesse há muito a ser afinada, é como se o destino que foi cumprido em Gelsenkirchen tivesse começado verdadeiramente a ser traçado em Manchester. E, portanto, tivesse começado a ser escrito pelas botas e cabeça letais de Benni McCarthy.
Benni McCarthy festeja um dos golos que marcou no Dragão ao United
MIGUEL RIOPA/Getty
Muito tempo passou daquelas noites de fevereiro e março de 2004. Benni McCarthy, depois de ter feito golos na Premier League pelos Blackburn Rovers, é agora treinador. E está de regresso a Old Trafford, não como carrasco, mas como aliado de Erik ten Hag: O Manchester United anunciou que o ex-avançado sul-africano será um dos adjuntos do neerlandês, especializando-se em "treinar jogo atacante e posicionamento", indicaram os red devils.
Tendo terminado a carreira em 2012/13, nos Orlando Pirates, McCarthy orientou, nos últimos anos, o Cape Town City e o AmaZulu, conjuntos do seu país. Em 2020/21, o ex-jogador do FC Porto levou o AmaZulu ao segundo lugar da liga, uma classificação recorde, feito que lhe valeu o prémio de melhor treinador da temporada.
Aos 44 anos, o antigo internacional — jogou pela África do Sul em 80 ocasiões, marcando 32 golos e tendo estado presente de 1998 e 2002 — terá assim um novo desafio no clube de Diogo Dalot, Bruno Fernandes e (até ver) Cristiano Ronaldo.
Em Old Trafford, McCarthy reencontrará outro antigo jogador da I Liga portuguesa. Mitchell van der Gaag, que representou o Marítimo entre 2001/02 e 2005/06, é outro dos adjuntos de Ten Hag. O ex-central orientou, também, o Marítimo e o Belenenses.