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O dia em que Ferguson deu uns dias a Cristiano Ronaldo para visitar o pai doente e outras histórias, contadas pelos próprios, lado a lado

É uma conversa entre mestre e pupilo, entre Sir Alex Ferguson e Cristiano Ronaldo. Nela fala-se de comunicação, de liderança, coisa que Ferguson sabe bem o que é, e acaba com o jogador português a contar uma história que explica bem o porquê do escocês ser visto como um dos grandes líderes que o futebol já teve

Tribuna Expresso

Martin Rickett - PA Images

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O vídeo é cortesia de um dos patrocinadores do Manchester United, subordinado ao tema “Comunicação e liderança”. Parece coisa chata, mas se os convidados a falar forem Cristiano Ronaldo e Sir Alex Ferguson, sentados lado a lado num sofá, talvez ganhe interesse.

E assim foi. Entre ambos há anos e anos de histórias, agora reunidas de novo com o regresso do português ao Manchester United. Sobre comunicação, Sir Alex sabe umas coisas e foi isso que Cristiano tentou explicar, lembrando os primeiros dias no clube e numa nova cidade, quando era apenas um garoto de 18 anos.

“Não falava inglês, foi duro. Mas a comunicação foi boa, toda a gente me ajudou muito, especialmente o Sir Alex. Mas foi difícil, por causa do sotaque dele [risos]. Não só ele, o sotaque do Manchester também é difícil”, começa por dizer o capitão da seleção nacional.

Sobre esses primeiros dias, Cristiano Ronaldo fala também da complexidade que é entrar num balneário com “um Ryan Giggs, com um Roy Keane” e de como o seu treinador de então sempre esteve lá para o apoiar: “Chamava-me muitas vezes ao escritório, com um tradutor. O importante foi o que ele sempre me disse e que me fez crescer como pessoa e jogador. Desde o dia 1. Sempre disse que ele é como um pai para mim no futebol”, sublinha o português, relembrando várias vezes que o escocês nunca lhe faltou à palavra: “Tudo o que ele me disse, ele fez”.

Do lado de Sir Alex, vem-lhe à cabeça o desafio que o jovem Ronaldo lhe lançou logo após a sua estreia, um desafio complicado para qualquer treinador que precisa de manter um grupo na mão: “No primeiro jogo da época ele foi suplente. Entrou e foi fantástico. Os adeptos adoraram. Mas fiquei com uma situação nas mãos: no jogo seguinte ou o punha a titular ou de novo no banco. Foi um problema grande”.

O lado humano de Sir Alex Ferguson, a forma como sempre liderou o grupo, é algo relevado pelos seus antigos jogadores e sobre isso Cristiano Ronaldo conta uma história que diz muito sobre o homem que levou o Manchester United a 13 títulos na Premier League e duas Ligas dos Campeões.

“Tivemos tantos momentos bonitos juntos. Ganhar é bom, mas no meu coração eu guardo os momentos difíceis. Lembro-me um dia em que o meu pai estava no hospital. Eu estava muito emocionado, muito em baixo. E falei com o Sir Alex e ele disse-me: ‘Cristiano, não importa, vai lá três ou quatro dias’. E nós tínhamos jogos complicados nessa altura”, recorda Cristiano Ronaldo. “Eu era um jogador-chave naquela altura, o Sir Alex disse que ia ser complicado mas que percebia a minha situação. Para mim isto foi o mais importante, mais que ganhar Champions League, a Premier League, taças”, frisa ainda o português.

“Eu sabia que o pai dele estava mal e que era importante o Cristiano estar lá. O clube não importa nessas alturas. Algumas coisas são maiores que um clube de futebol e a família é uma delas, sem dúvida”, referiu o antigo treinador logo de seguida.

E por falar em treinador, durante a conversa há um momento em que Sir Alex Ferguson se dirige a Cristiano Ronaldo e diz: “Vais tornar-te treinador um dia”. Ao que o avançado respondeu com mais dúvidas do que certezas, apesar dos sorrisos: “Não, talvez não. Não sei”.