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"Há algo que vos tenho que dizer e que me separa da maioria dos outros jogadores da Premier League: eu sou gay"

A Fundação Justin Fashanu, fundada em honra do primeiro jogador inglês a assumir a homossexualidade, entregou ao jornal "The Sun" um carta de um jogador da Premier League que, sob anonimato, fala do inferno que pode ser viver a sua vida escondido, num ambiente em que o assunto é ainda tabu

Tribuna Expresso

Mike Powell

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É uma carta aberta que a Fundação Justin Fashanu (o primeiro jogador inglês a assumir a homossexualidade e falecido em 1998) entregou ao jornal "The Sun". Nela, um atual jogador da Premier League, sob anonimato, confessa como é difícil viver encurralado, sem poder assumir perante os colegas a sua sexualidade.

"Há algo que vos tenho que dizer que me separa da maioria dos outros jogadores da Premier League: eu sou gay", escreve o jogador no texto, que a fundação quer que seja um alerta para todos os atores do mundo do futebol.

"Só o facto de escrever esta carta já é um enorme passo para mim. Mas só a minha família e um grupo restrito de amigos sabe da minha sexualidade. Não me sinto preparado para o partilhar com os meus colegas ou com o meu treinador. É difícil. Passo a maior parte do meu tempo com eles e quando subimos ao relvado somos uma equipa. Mas ainda assim, algo dentro de mim diz-me que é impossível abrir-me com eles sobre o que sinto", pode ler-se ainda na carta. O autor está a ser ajudado há um ano pela fundação, que já trabalhou com pelo menos sete jogadores de futebol homossexuais ou bissexuais e que não sentem o apoio necessário para o assumir publicamente.

"Sei desde os 19 anos que sou gay. Como é que viver a minha vida assim? No dia a dia pode ser um verdadeiro pesadelo. E está a afetar a minha saúde mental, cada vez mais. Sinto-me encurralado e o meu medo é que dizer a verdade torne as coisas ainda piores", diz também o jogador, que frisa não sentir que haja condições para que um futebolista dê o passo em frente e que os organismos que regem o futebol não estão a fazer o trabalho para que essas condições apareçam.

"É preciso educar os adeptos, os jogadores, os treinadores, os agentes, os donos dos clubes - basicamente toda a gente envolvida. Se desse o passo em frente, gostava de fazê-lo sabendo que seria apoiado em todos os momentos do caminho. Neste momento, não sinto que fosse. Quem me dera não ter de viver a minha vida desta forma".