Os olhos ainda tinham resquícios das lágrimas de emoção que percorreram a face de Tatiana Pinto, num trajeto feito pelas caras de diversas companheiras de seleção da centrocampista. Depois da vitória (2-1) contra os Camarões, que permitiu a Portugal estar, pela primeira vez, no Mundial feminino, a média do Levante foi receber o prémio de melhor em campo. Era uma nova distinção para uma jogadora que se parece multiplicar pelo relvado, defendendo e atacando, recuperando e criando, com uma resistência física própria de uma maratonista.
O destaque no play-off condiz com uma temporada em cheio para ‘Tati’, como as colegas lhe chamam: ao habitual estatuto de indiscutível por Portugal soma grande rendimento no Levante, com 11 golos e duas assistências em 21 partidas pela equipa valenciana em 2022/23, aos quais soma os três festejos na época por Portugal. A 98 vezes internacional é uma das figuras de um conjunto que segue no terceiro lugar da Liga F, o campeonato espanhol, com 11 vitórias seguidas.
As exibições de Tatiana em Espanha, com golos a acompanharem a sua regular presença no meio-campo, têm-lhe valido protagonismo na imprensa. O “Relevo” destaca a “versatilidade” da natural de Águeda, que “lidera” a seleção nacional e o Levante, enquanto o “AS” entrevistou a ex-Sporting, a viver a segunda época nos granotas.
Tatiana Pinto com o prémio de melhor em campo do decisivo Portugal - Camarões, que garantiu a qualificação para o Mundial 2023
Joe Allison - FIFA/Getty
Ainda com a festa “muito boa” na memória, com visita a Marcelo Rebelo de Sousa incluída, Tatiana diz que o objetivo no Mundial é “desfrutar”. Com um grupo “muito complicado”, com Estados Unidos da América, Países Baixos e Vietname pela frente, a média destaca positivamente essa exigência: “Só jogando contras as melhores vamos melhorar”
A jogadora do Levante reconhece que o futebol feminino em Portugal “está um pouco mais atrasado do que em Espanha”, porque “começámos mais tarde”. Mas acha que há um “crescimento pouco a pouco”, “passo a passo”. “Há cada vez mais equipas profissionais, ainda que a liga não o seja. A seleção está muito bem, as jogadoras estão a trabalhar bem e há condições nos clubes para crescer. Algumas estamos fora como a Diana Gomes [Sevilla], Fátima Pinto [Alavés] ou Andreia Jacinto [Real Sociedad], o que também ajuda a seleção a crescer”, opina.
No regresso da Liga F depois da paragem das seleções, ‘Tati’ fez dois golos e uma assistência contra o Sevilha — Diana Gomes foi suplente e entrou aos 65' —, prolongando o seu grande momento. O Levante é terceiro, posição de pré-eliminatória da Liga dos Campeões, com 50 pontos, a cinco do Real Madrid e a 10 do Barcelona, que venceu todas as 20 jornadas que disputou.
“Bem, feliz, livre e desfrutando no campo”. Assim é como Tatiana diz “sentir-se” neste momento, muito “cómoda” na forma de jogador das valencianas, onde pode jogar a número 8, a sua posição preferida porque “tem muita presença”, estando “num segundo a atacar e noutro a defender”, algo que parecia porque quer “participar em todas as fases da partida”.
Tatiana Pinto começou por praticar atletismo e ter aulas de piano, mas não gostava de nenhuma das atividades. Até que foi para uma equipa de futebol com rapazes e “correu muito bem”, só tendo jogado com mulheres a partir dos 13 anos: “Toda a minha formação foi com rapazes e foi incrível, sempre me trataram muito bem, sentia-me parte importante da equipa. Depois passei a uma equipa de futebol 11 com raparigas e foi difícil, porque eu tinha 13 anos e elas 25 ou 30, foi um choque para mim. Não havia muitas equipas femininas de formação”, explica.
Com contrato com o Levante a terminar em junho, Tatiana “não sabe” o que vai passar, estando “focada” no presente. Uma atualidade que a leva a brilhar pela seleção e numa das principais ligas da Europa.