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Após pressão de Austrália e Nova Zelândia, FIFA pode abandonar suposto acordo com Arábia Saudita para patrocinar o Mundial feminino

A notícia, nunca confirmada nem desmentida, de que o turismo do país do Médio Oriente teria chegado a um acordo para patrocinar o Mundial levou a fortes críticas de ambos os organizadores e de estrelas como Alex Morgan ou Megan Rapinoe. Mas, segundo imprensa em Inglaterra e na Austrália, a entidade liderada por Gianni Infantino poderá deixar cair a ideia

Pedro Barata

WILLIAM WEST/Getty

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Em janeiro, o “The Athletic” noticiou que um dos patrocinadores do Mundial feminino, que decorrerá em julho e agosto na Austrália e Nova Zelândia, seria o turismo da Arábia Saudita. A informação, nunca confirmada nem desmentida pela FIFA, gerou pedidos de esclarecimento “urgentes” por parte de ambos os países organizadores, devido ao desrespeito pelos direitos das mulheres no país do Médio Oriente, mas o patrocínio pode nunca ver a luz do dia.

Segundo o “Sydney Morning Herald” e a “Sky News”, a pressão de australianos e neozelandeses, bem como de algumas estrelas do futebol feminino, poderá fazer com que a entidade liderada por Gianni Infantino deixe cair o suposto acordo com a agência de promoção turística da Arábia Saudita.

O jornal australiano escreve que as críticas à hipótese de ter “Visit Saudi” escrito em painéis de publicidade no Mundial “chocaram” a FIFA. Além da questão dos direitos humanos, também não terá sido do agrado dos organizadores que se fizesse promoção ao turismo de outro país, quando Austrália e Nova Zelândia pretendem usar o torneio para dar visibilidade aos respetivos territórios.

Gianni Infantino estará, agora, a tentar uma solução para ser apresentada no próximo congresso da FIFA. A 73.ª reunião geral da entidade decorrerá a 16 de março, no Ruanda, e servirá para reeleger o atual presidente para novo mandato — Infantino concorre sem opositores.

Na Arábia Saudita, as mulheres só podem conduzir desde 2018 e apenas conseguem viajar sem a autorização dos maridos desde 2019. A primeira liga feminina do país foi criada apenas em 2020. Segundo a “Human Rigths Watch”, as mulheres “continuam a enfrentar discriminação no casamento, família, divórcio e em decisões quanto a filhos, nomeadamente no que toca à sua custódia”.

Na sexta-feira, Andrew Pragnell, diretor-executivo da federação da Nova Zelândia, disse “acreditar” que a FIFA “estava a repensar” o patrocínio saudita. Quando o suposto acordo foi relevado, a federação da Austrália disse estar “muito desapontada por não ter sido consultada”, enquanto a da Nova Zelândia acrescentou que, “se estas notícias forem verdadeiras”, estava “chocada e desapontada”.

Desde que os dois países pediram explicações à entidade de Zurique, no começo de fevereiro, a FIFA tem dado “respostas ambíguas”, não “confirmando nem desmentido” o acordo de patrocínio, diz o diretor-executivo dos neozelandeses. “Estão a deixar-nos na incerteza, o que é uma desilusão”, revelou Andrew Pragnell.

Alex Morgan e Megan Rapinoe, duas das principais estrelas do futebol feminino a nível global, descreveram o suposto patrício como “bizarro”. Vivianne Miedema, referência do Arsenal e dos Países Baixos, disse que a FIFA deveria ter “muita vergonha” de, sequer, considerar a hipótese.

Possibilidade de haver braçadeiras ‘OneLove’ na Austrália e na Nova Zelândia

No Mundial do Catar, várias seleções foram proibidas de utilizar braçadeiras com as cores do arco-íris — as chamadas braçadeiras ‘OneLove’ — depois de a FIFA ter ameaçado, à última hora e após meses de incerteza, impor “sanções desportivas” a quem usasse esses símbolos. Ora, no torneio na Austrália e na Nova Zelândia, países sem as políticas de discriminação da comunidade LGBTQIA+ existentes no Catar, as braçadeiras que foram proibidas há quatro meses poderão ser permitidas.

Gianni Infantino disse, no sábado, que houve um “processo de aprendizagem” depois do Mundial masculino e que “toda a gente tentará fazer melhor”, procurando “o diálogo com todos os envolvidos: capitães, federações, jogadores e FIFA”. “Veremos o que poderemos fazer para vincar uma posição, valores e sentimentos sem ferir ninguém. Estamos a dialogar e teremos uma posição antes do Mundial”, desejou Infantino.

Leah Williamson, capitã da seleção de Inglaterra, já disse que gostaria de utilizar a braçadeira no Mundial, que será “um grande palco e uma grande altura para promover os valores em que acreditamos”, opinou a jogadora do Arsenal.