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Futebol feminino

“Era o sonho de muitas meninas e de muitas mulheres”: entrevista a Alfredina, uma das pioneiras da seleção feminina em 1981

Os rumores deram lugar a uma carta com a convocatória para a viagem a Le Mans, em outubro de 1981, para participar na estreia da seleção portuguesa de futebol feminino. Alfredina Silva, canhota e jogadora de linha, tinha 17 anos e agora, mais de quatro décadas depois, celebra o feito do grupo que se qualificou para o Campeonato do Mundo, lembrando as companheiras que já não estão e homenageando, entre outras, a capitã daquela altura, Fátima Azevedo. “Foi uma pessoa que lutou muito pelo futebol feminino”, recorda a coordenadora de futebol feminino e treinadora das sub-13 do Boavista. Na ressaca da felicidade, a ex-jogadora, de 59 anos, deixa um aviso: “Precisamos de não recuar e de não ficar deslumbrados com este resultado, que vai motivar mais meninas a virem para o futebol"

Hugo Tavares da Silva

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Também acordou com as galinhas para ver o Portugal-Camarões?
Claro que sim! Claro que sim. Estive a ver o jogo todo [risos].

Como é que alguém que esteve no primeiro jogo da seleção viveu este dia?
Com muita emoção. É um sonho que atravessa gerações, não é? Não era diferente de quando começámos a jogar, quando não existiam campeonatos distritais e nacionais, quando tivemos uma seleção que entretanto interrompeu [durante 10 anos] a sua atividade. Era o sonho de muitas meninas e de muitas mulheres e, agora que foi concretizado, foi com muita emoção que vivi o momento, como toda a gente que está no futebol feminino, que sabe as dificuldades que tivemos de ultrapassar. Ainda há muito caminho para percorrer porque é sempre possível fazermos melhor.

Que lhe parece esta geração de jogadoras?
Talentosas. Com muito boas condições para continuarem a evoluir. Têm a alma do que é ser português, lutaram e deram tudo dentro de campo e conseguiram aliar a isso uma excelente exibição. Já com alguma experiência, conseguiram o grande objetivo. Parabéns para elas e parabéns para Francisco Neto, Mónica Jorge e Federação Portuguesa de Futebol. É algo que só é possível se houver um trabalho coordenado. Todos queremos a mesma coisa.

Portugal começou bem o jogo, depois sofreu e acabou com lágrimas e fado. Mais português era difícil…
Sim, à boa maneira portuguesa: difícil. Foi um final um bocadinho atípico, acho que dominámos o jogo todo, tivemos ali um lance menos feliz que deu golo. Tivemos imensas oportunidades e não conseguimos concretizar e elas conseguiram. Mas estávamos bem focadas e, mais tarde ou mais cedo, nem que fosse no prolongamento, íamos conseguir. Conseguimos antes, foi espectacular. Foi merecido. As portuguesas todas estão de parabéns, as mais antigas, as que estiveram neste percurso todo e aquelas que vão ter a oportunidade de representar as seleções nacionais. É um momento que fica marcado para sempre.

Era inevitável chegarmos a um Mundial?
Tinha de acontecer. A jogadora portuguesa foi sempre talentosa, de um país de futebol, foi sempre muito competente no que fazia. Faltava só ter as condições necessárias para poder atingir o alto rendimento, isso tem acontecido. Era algo que seria de esperar mais tarde ou mais cedo.

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