O último dia do mercado de transferências de inverno esteve muito perto de ser histórico para o futebol feminino, mas o Manchester United travou o negócio. O Arsenal procurava reforçar o seu ataque, visto que tem Beth Mead e Vivianne Miedema lesionadas, e recorreu à primeira classificada da Women´s Super League (WSL) para isso. Alessia Russo foi a escolhida, mas todas as propostas foram rejeitadas, até mesmo aquela que colocaria a transferência no topo da lista das mais caras do futebol feminino: muito perto de 500 mil libras (cerca de 565 mil euros).
Quando a janela de transferências fechou, às 17h de terça-feira, Russo continuava a ser jogadora do United e o recorde do futebol feminino ainda pertencia a Keira Walsh, que foi do Manchester City para o Barcelona por 460 mil euros. Mesmo que o negócio não se tenha concretizado, há pontos positivos a tirar de tudo isto.
Existem vários fatores que provam o crescimento do futebol feminino, principalmente olhando para 2022. Os números são um deles. Depois da vitória no Europeu do verão passado, a Inglaterra tem vindo a assistir a um momento de mudança em relação à modalidade. Só nesta janela de transferências, além da tentativa do Arsenal, o Tottenham bateu o seu recorde interno ao contratar Bethany England por cerca de 200 mil libras (225 mil euros).
Keira Walsh continua a ser a jogadora mais cara de sempre no futebol feminino
Charlotte Tattersall - The FA
Esta forte aposta na contratação de reforços, visando até as equipas dos rivais diretos, acaba por contribuir também para a competitividade das ligas. Olhando para a WSL, o United e o Chelsea, os dois primeiros classificados, têm o mesmo número de pontos (28), sendo que em terceiro está o Arsenal, a apenas três pontos.
Em Portugal, o equilíbrio ainda é uma miragem. O Benfica segue na liderança da Liga BPI com 36 pontos, o Braga está logo atrás com 28 pontos. Entre os minhotos e a quinta posição há apenas quatro pontos (Sporting em 3.º, Damaiense em 4.º e Famalicão logo a seguir), mas sobram sete para o sexto classificado.
Os números continuam muito longe do que é praticado no futebol masculino, mas, tendo em conta a realidade que estas ligas já viveram, as coisas melhoraram bastante - Walsh quebrou um recorde que pertencia a Pernille Harder desde 2020.
“Queremos ver esse recorde quebrado, e espero que o recorde da Keira seja quebrado na janela deste verão. É uma parte importante da evolução do jogo feminino”, disse Sam Stapleton, o chefe executivo da Rept Sports, a agência que intermediou a mudança de Walsh para Barcelona, ao “The Telegraph”. “Olhando para trás, foi surpreendente que o valor recorde pago por Pernille Harder tenha ficado como recorde durante tanto tempo. A cada janela, o investimento parece subir e subir”.
Se este ritmo continuar, a previsão é de que o recorde continue a ser superado e se consiga chegar, finalmente, à casa dos milhões. Principalmente porque se aproximam dois grandes torneios. O Mundial de 2023 termina numa altura muito próxima do fecho do mercado, o que vai dificultar a existência de uma grande transferência por causa do desempenho da jogadora na competição, mas em 2025 regressa o Europeu e é para aí que Stapleton aponta.
“Se algumas jogadoras fizerem um Euro 2025 impressionante, penso que no final dessa janela de transferência de verão poderá ser quando veremos a primeira jogadora de futebol feminino vendida por 1 milhão de libras [1,1 milhões de euros]. O Campeonato do Mundo deste verão terminará a 20 de agosto, o que está bastante próximo do dia do prazo, mas na altura do Euro 2025 seria de esperar que as coisas tivessem passado para outro nível”, disse.