Para os adeptos que gostaram de uma dose extra de futebol em 2022 graças ao Mundial do Catar, não é preciso desanimar: o próximo ano chega com mais um Mundial. Desta vez são as mulheres que entram em campo e, apesar de não haver governos e políticas perfeitos, a Austrália e Nova Zelândia têm menores probabilidades de desviar o foco da modalidade como aconteceu este ano, em que o torneio foi organizado no Catar apesar das objeções generalizadas devido ao historial em matéria de direitos humanos.
O Mundial 2023 chega numa altura em que já ninguém consegue negar o crescimento e relevância do futebol feminino um pouco por todo o mundo. A modalidade não chegou a este ponto do dia para a noite, mas sim passo a passo ao longo de várias gerações. Um desses passos foi o Euro 2022, que culminou com a vitória de Inglaterra e deu uma nova vida ao futebol feminino na Europa.
Ao longo do torneio foram várias as vezes em que se fez história. O Euro 2022 foi o mais assistido com um público global acumulado de 365 milhões de espectadores, mais do dobro da edição de 2017 (178 milhões) e 214% maior do que em 2013 (116 milhões). O jogo da final estabeleceu um novo recorde de assistência de um jogo do Euro, feminino ou masculino, com 87.192 adeptos a marcarem presença no estádio de Wembley, em Londres.
Avançando uns meses, o resultado de tudo isso é evidente. As audiências estão agora a consumir desportos femininos sete vezes mais do que em 2012. Algo que pode também ser justificado pelo aumento em cinco vezes no número de jogos femininos a serem transmitidos em direto na televisão em comparação com uma década atrás. De acordo com a Women's Sport Trust, foi visto um recorde de 325 milhões de horas de desporto feminino em 2022, em comparação com apenas 19,1 milhões há 10 anos.
E o futebol feminino é só uma parte da história. Em Inglaterra, foram muitos os adeptos que assistiram ao Mundial de râguebi ou ao combate de boxe entre Claressa Shields e Savannah Marshall.
A tendência arrasta-se um pouco por todo o Mundo. Um inquérito realizado pelo Nielsen Sports em oito mercados (EUA, Reino Unido, França, Itália, Alemanha, Espanha, Austrália e Nova Zelândia) revelou que 84% dos adeptos de desporto estão interessados nas modalidades femininas. Destes, 51% são homens, o que mostra que não são apenas as mulheres a assistirem. Nos mesmos mercados, 45% disseram que assistiriam a um evento desportivo feminino ao vivo e 46% afirmaram que poderiam ver mais se fosse mais acessível na televisão gratuita.
Houve ainda um grupo de 38% que disse que nunca assistiu, mas teria interesse em assistir, o que prova que ainda há espaço de crescimento para os próximos anos. Em 2023, o Mundial pode ser um bom momento para promover o jogo feminino, apesar de os horários dos encontros serem difíceis para os adeptos europeus.
A nível de clubes, o número de adeptos a ir aos estádios também tem crescido significativamente. Depois das assistências recorde em Camp Nou, em Barcelona, na época passada, a previsão é de que a atual Liga dos Campeões feminina mantenha o mesmo registo.
"Temos visto muitos progressos nos últimos 10 anos e as estatísticas do último ano são particularmente impressionantes", disse Tammy Parlour, co-fundadora e chefe executiva do Women's Sport Trust, ao "The Telegraph". "Esperamos que esta tendência continue e que seja feito mais investimento no desporto feminino, a todos os níveis, para salvaguardar a sua passagem de digno para irresistível".