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Futebol feminino

Há cinco anos que a seleção feminina dos Estados Unidos não perdia dois jogos seguidos: “Estaria a mentir se dissesse que estamos bem”

Confrontadas com os casos de abusos sexuais na liga norte-americana, as jogadoras da seleção dos Estados Unidos tiveram que vestir a camisola e jogar contra duas das melhores equipas da Europa: Inglaterra e Espanha. A reação não foi a esperada, mas o momento também não é o melhor

Rita Meireles

Juan Manuel Serrano Arce

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Dificilmente se pode dizer que uma equipa esteja a passar por um histórico mau momento de forma depois de apenas duas derrotas seguidas, mas quando essa equipa é a campeã do mundo de futebol feminino, começam a soar as sirenes de alerta.

A seleção dos Estados Unidos perdeu dois jogos consecutivos durante uma pequena tour europeia, algo que não acontecia há cinco anos. Na sexta-feira, contra a Inglaterra, perderam por 2-1 e na terça-feira à noite, a equipa de Vlatko Andonovski terminou derrotada por 2-0 contra a seleção espanhola, em campo sem 15 das suas jogadoras principais, em conflito com a federação do país.

"É realmente dececionante", disse Andonovoski numa conferência de imprensa após a segunda derrota. "Não há qualquer dúvida sobre isso".

O jogo frente à Inglaterra, onde 76.893 adeptos preencheram as bancadas do estádio de Wembley e voltaram a confirmar o bom momento do futebol feminino na Europa, foi bastante competitivo e equilibrado. Mas em Espanha nem tanto.

Esta é uma equipa que tem a reputação de ir contra tudo e todos, e sair vencedora. É assim dentro e fora de campo. Foi assim quando o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reagiu à declaração de Megan Rapinoe de que não iria à Casa Branca em caso de vitória no Mundial, como aconteceu, e foi assim quando as jogadoras estiveram contra a própria federação, exigindo prémios iguais à seleção masculina. Neste momento a equipa ultrapassa mais um momento difícil fora do campo, mas talvez não seja justo esperar a mesma reação de outros tempos dentro das quatro linhas. Porque há problemas e problemas.

Poucos dias antes da viagem para a Europa, as jogadoras norte-americanas souberam do resultado de uma investigação que revelou que os abusos e más condutas sexuais são sistémicos na liga do seu país. “O abuso verbal e emocional e a má conduta sexual ocorreram em várias equipas, foram cometidos por vários treinadores e afetaram muitas jogadoras”, lê-se no relatório.

A descoberta tornou o desafio de jogar pela seleção ainda maior, mesmo tratando-se de uma equipa acostumada a ser alvo de atenção e controvérsia. “Estaria a mentir se dissesse que estamos bem", confessou Crystal Dunn à BBC.

Os Estados Unidos estão a perder jogos, mas fazem-no numa altura em que, segundo a mesma jogadora, é difícil sentirem orgulho ao entrar em campo. Por outro lado, as adversárias que defrontaram estão num momento muito positivo: a Inglaterra acabou de vencer o Europeu e a Espanha com sangue novo e com muito para provar na ausência das 15 jogadoras que pediram para não serem convocadas.