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Futebol feminino

Jenni Hermoso apoia colegas de seleção: “Vivi experiências únicas e felizes a jogar por Espanha, mas também vivi momentos muito difíceis”

O futebol feminino espanhol continua a ultrapassar um dos momentos mais difíceis da sua história. A poucos dias da convocatória para os próximos jogos, 15 jogadoras pediram para não serem convocadas. Alexia Putellas colocou-se do lado das colegas e agora Jenni Hermoso vem mostrar o mesmo apoio. "A desconexão entre o pessoal técnico e as jogadoras, a federação e as jogadoras e a fratura do grupo são sinais de que algo não está a funcionar"

Rita Meireles

Angel Martinez

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Primeiro foram 15 jogadoras da seleção de futebol feminino espanhola que contactaram a federação (RFEF) a pedir para, temporariamente, não serem convocadas, uma vez que a situação atual da equipa as tem afetado a nível de saúde e no plano emocional. A seguir, o problema esteve diretamente relacionado com a recusa da RFEF em demitir o selecionador, Jorge Vilda. Um dia depois, Alexia Putellas juntou-se ao grupo e juntas partilharam um comunicado a contar o seu lado da história. Agora foi a vez de Jennifer Hermoso, um dos principais nomes do futebol espanhol nos últimos anos e atualmente a jogar no México.

A segunda maior goleadora da história da equipa nacional (42) ainda não tinha feito conhecer a sua posição por considerar que precisava de alguns dias para refletir sobre a situação. Decidiu fazê-lo na noite de terça-feira, ao publicar uma extensa declaração em nome próprio. Entre as várias mensagens passadas, destacam-se a exigência para ouvirem as jogadoras, a nota sobre a falta de comunicação e a garantia de que apoia as suas colegas de equipa.

"Gostaria de expressar publicamente o meu apoio a todas as colegas que decidiram há alguns dias dar a conhecer a sua posição. Não só compreendo as suas razões, como também já experienciei muitos dos sentimentos e preocupações que elas comunicaram. Estou muito consciente disso porque tive a oportunidade de viver experiências únicas e imensamente felizes a jogar por Espanha, mas tenho de admitir que também vivi momentos muito difíceis ao ponto de não me reconhecer e de me perguntar se o que estava a fazer valeria a pena", escreveu Hermoso.

A jogadora confessou estar a viver "os dias mais difíceis como jogadora profissional e na seleção nacional" e que passou "dias sem dormir a pensar em soluções e a procurar explicações para o grande vazio" que está a sentir neste momento.

Nos próximos dias, Vilda deverá apresentar a convocatória para os jogos contra Suécia, a 7 de outubro, e Estados Unidos, no dia 11. Uma das grandes dúvidas prende-se com a chamada ou não de Jenni Hermoso, que trocou o Barcelona pelo Pachuca do México esta época.

"É importante compreender que não se chega a esta situação da noite para o dia", continuou. "É evidente que é a consequência de uma acumulação de acontecimentos, comportamentos, decisões, tentativas falhadas e desgaste na tentativa de fazer ouvir a voz da jogadora. Na minha carreira tive a oportunidade de trabalhar com diferentes metodologias, sistemas de jogo, gestão de grupo e, embora seja verdade que as jogadoras não são responsáveis por tomar decisões sobre estes aspetos, somos nós que vivemos o dia-a-dia, que trabalhamos e que precisamos de estar convencidas do que está a ser feito, por isso as nossas opiniões devem ser tidas em conta".

Mas, apesar de concordar com a posição das suas colegas de equipa e de defender que, ao contrário do que foi dito por muitos, não se trata de uma chantagem ou um capricho, Hermoso não concorda totalmente com o caminho que escolheram para demonstrar o descontentamento.

"Embora não concorde com a forma, tenho empatia com a necessidade de fazer-se algo, pois estamos no meio de uma situação insustentável que nada faz em benefício do futebol feminino espanhol", disse.

Além de deixar clara a sua opinião, também não teve meias palavras na hora de descrever o conflito: "A desconexão entre o pessoal técnico e as jogadoras, a federação e as jogadoras e a fratura do grupo são sinais de que algo não está a funcionar", garantiu, realçando a necessidade de as jogadoras serem ouvidas “de uma forma amigável”.