Jassie Vasconcelos, Carlota Cristo, Daiane Rodrigues e Dani Neuhaus são futebolistas. Desde dezembro, não necessariamente por esta ordem, as duas portuguesas e o par de brasileiras foram confirmadas como futuras jogadoras da equipa com que o Benfica, a partir da próxima época, irá entrar nas competições de futebol feminino em Portugal. As quatro foram anunciadas antes de a pele bronzeada e o sorriso de João Marques se apresentarem no Estádio da Luz, a 8 de março, como o novo treinador da versão feminina do futebol encarnado.
Por esta altura, sabe a Tribuna Expresso, já Mélissa Antunes, jogadora do Sporting de Braga, estaria a treinar com a equipa B minhota, tendo sido despromovida da equipa principal.
O que tem isto a ver com as quatro jogadoras já contratadas pelo Benfica?
Nada e tudo. Começando a história pelo princípio, quando uma novidade foi tornada pública, a 12 de dezembro de 2017: o Benfica ia entrar no futebol feminino, criar uma equipa e começar a competir na segunda divisão. Desvendada a intenção, os encarnados foram compondo a equipa, anunciando quatro jogadoras vindouras: duas avançadas, uma médio e uma guarda-redes.
Aos poucos, contrataram Jassie Vasconcelos, portuguesa que está no Cardiff City, em Gales; uma conterrânea, Carlota Cristo, que joga no Verona de Itália; depois, Daiane Rodrigues e Dani Neuhaus, brasileiras que atuam no Corinthians e no Santos, clubes do seu país. Todas a habitarem em terras onde o futebol feminino costuma dar às jogadores (bem) mais condições, dinheiro e perspetivas do que em Portugal.
Todas são internacionais e têm nome, todas batem certo com o que o Benfica, em dezembro, deixou explícito, em comunicado: “Durante os próximos meses, o SL Benfica preparará meticulosamente a próxima época desportiva e anunciará a constituição da equipa técnica e o plantel de atletas contratadas para o arranque de um grupo de trabalho que competirá para estar à altura das melhores expectativas dos adeptos”.
E todas foram confirmadas pelo clube até 8 de março, quando foi apresentado o projeto para o futebol feminino. Logo, desvendou o treinador.
João Marques, antigo técnico da equipa feminina do Sporting de Braga e da equipa de futebol de praia (em simultâneo), homem de 41 anos, foi apresentado ao lado de Fernando Tavares, vice-presidente para as modalidades, de Paulo Silva (treinador de guarda-redes), Valter Pinheiro (fisiologista e treinador de campo) e António Ilhicas (treinador de campo).
E de Estrela Conceição Nogueira Paulo.
Ela é fundadora - juntamente com Mélissa Antunes - da Topballer - Sports Management, Lda., a empresa de agenciamento desportivo que está a colaborar com o Benfica “nesta fase de preparação do arranque do projecto”, confirmou o clube, à Tribuna Expresso.
As quatro jogadoras já anunciadas pelos encarnados são representadas pela Topballer. O mesmo acontece com o treinador. Já foi noticiado que estará iminente a contratação de Darlene de Souza, outra internacional brasileira alegadamente representada pela Topballer. “[Mas] não existe qualquer exclusividade com esta ou outras agências no futuro”, assegurou o gabinete de comunicação do Benfica, por e-mail, explicando que os “dirigentes e equipa técnica seguem o plano delineado pela direção para este ambicioso projecto” e que “a estratégia do clube é montar uma equipa forte e coesa”.
Seja como for, todas as atletas e o treinador já contratados pelo Benfica são agenciados pela empresa que, a 23 de novembro de 2016, segundo o Portal da Justiça, Estrela Paulo registou na Conservatória do Registo Comercial de Braga. Fê-lo em conjunto com outra sócia - Mélissa Antunes.
A futebolista do Sporting de Braga tem 28 anos, está a cumprir a segunda época no clube minhoto e é uma jogadora de seleção: tem 30 encontros feitos, os três últimos na Algarve Cup, onde Portugal terminou num inédito terceiro lugar, no início de março. Mas tem treinado com a equipa secundária do Sporting de Braga, o que está relacionado, ao que conseguimos apurar, com o facto de ser a sócia-gerente da Topballer.
Contactada pela Tribuna Expresso e questionada sobre o possível conflito de interesses entre a colaboração da Topballer com o Benfica e o facto de a empresa pertencer a uma jogadora do Sporting de Braga, a comunicação do clube minhoto respondeu que não é sua intenção “imiscuir-se nesta temática, sobretudo por dizer respeito a outro clube”. Tão pouco comentou a situação atual de Mélissa Antunes.
Em março do ano passado, Estrela Paulo renunciou à gerência da empresa, ficando apenas como sócia. O seu nome consta na lista de agentes e intermediários disponível no site da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), na qual não surge o da Topballer.
O seu site oficial encontra-se “em desenvolvimento”. Via Facebook, a página da empresa remeteu para o Benfica todas as perguntas que lhe colocámos. Tentámos contactar Mélissa Antunes, mas não obtivemos resposta.
A par de Mélissa Antunes, também Laura Luís, Sílvia Rebelo, Diana Gomes e Dolores Silva, jogadoras do Sporting de Braga e internacionais portuguesas, são representadas pela Topballer. A Tribuna Expresso apurou, contudo, que os responsáveis bracarenses não estão preocupados com a hipótese de as investidas do Benfica no mercado, ou de qualquer outro clube, poderem influenciar o seu projeto no futebol feminino.