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Fórmula 1

Drama, bandeiras vermelhas e infortúnios: o GP da Austrália foi um caldeirão de emoções e quem o ganhou foi Max Verstappen

Depois de três bandeiras vermelhas durante a corrida, o pódio recebeu a visita de três campeões do mundo: Max Verstappen, Lewis Hamilton e Fernando Alonso. “É a minha primeira vitória aqui, estou muito feliz”, desabafou no final o neerlandês, atual bicampeão do mundo

Hugo Tavares da Silva

Robert Cianflone

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O drama foi real. A três voltas do fim, a bandeira vermelha foi içada e interrompeu distâncias, sossegos e sentenças. Max Verstappen, Lewis Hamilton e Fernando Alonso arrancariam novamente, pela terceira vez (2.ª bandeira vermelha), juntinhos. Um toque do Ferrari de Carlos Sainz tirou Alonso da pista, enquanto os dois Alpine embrulharam-se e saltaram fora da corrida. Nova bandeira vermelha içada, mais um teatro inaugurado neste circo épico. Houve um quarto arranque, com a mesma anterior ordem das coisas. Depois do guião tresloucado, o balde de água fria: a corrida terminou com os pilotos, bem comportados e mansos, atrás do safety car. Nada alterou então o destino que Max Verstappen vai vergando: o piloto da Red Bull Red Bull que é bicampeão do mundo ganhou o Grande Prémio da Austrália, a segunda vitória na temporada 2023 de Fórmula 1.

“É a minha primeira vitória aqui, estou muito feliz. É bom ver que os adeptos tiveram um bom dia”, sentenciou no final o piloto da Red Bull.

O verdadeiro arranque inaugural da terceira corrida do calendário de Fórmula 1 foi salpicada pela emoção pela qual todos suspiram. George Russell e Lewis Hamilton, ambos da Mercedes, enganaram Max Verstappen (Red Bull), que foi apertado por outros carros. A ocupação por cada metro quadrado estava concorrido. Charles Leclerc (Ferrari), o vencedor do GP da Austrália em 2022, saltou fora logo na curva 3, após toque em Lance Stroll (Aston Martin). A bandeira amarela foi agitada. “Fui cuidadoso, tinha muito a perder e muito a ganhar”, explicaria no fim Verstappen sobre a perda da liderança.

Esperavam-se 58 voltas rápidas, a uma velocidade média de 200 km/h. Seria uma corrida rápida não fosse o que aconteceu pouco depois (e ao longo da tarde). Hamilton ia perguntando se o carro estava inteiro, talvez a asa dianteira tenha dado um toque em Verstappen durante a ultrapassagem. O neerlandês denunciou que foi empurrado para fora da pista pelo britânico. Quando Alexander Albon (Williams) se despistou na curva 6 da volta 7, alguns pilotos foram à box.

Quando a bandeira vermelha foi agitada, Russell percebeu que sairia da sétima posição na hora de reiniciar a corrida, um valente soco no estômago. Toto Wolff lamentou e apontou os dois carros ao pódio. Teríamos Hamilton, Max e Fernando Alonso (Aston Martin) na frente no recomeço, 16 minutos depois da paragem.

Dan Istitene - Formula 1

À passagem da volta 12, a inevitável realidade veio trincar a esperança por algo surpreendente: Max superou Hamilton. A seguir, confirmando a trágica tarde, saíram chamas do carro de Russell, que teve de abandonar. Já Sergio Pérez continuava o seu show escalador. O mexicano começou na última posição depois de um erro grave na Q1 e nesta corrida demonstrou mais uma vez que ele e o seu carro são feitos de matérias importantes. Também Pierre Gasly (Alpine) e Lando Norris (McLaren) exibiam-se a grande nível, galgando várias posições. Alonso na posição de pódio já nem é notícia e isso é admirável.

Daniel Ricciardo, o terceiro piloto da Red Bull, surgiu nas imagens e houve uma reação satisfatória do público. E ele, claro, sorriu com os dentes todos.

A 15 voltas do fim, Pérez superou Norris. E pouco depois, Max Verstappen, talvez aborrecido, distraiu-se e foi à relva. “Acho que fiz um favor à cidade, cortei um pouco a relva, não o precisam de fazer”, comentaria em jeito de brincadeira na conversa com David Coulthard. Hamilton, que ainda vai imaginando a 104.ª vitória na F1, ganhou uns poucos segundos.

O safety car voltou a entrar em ação, à passagem volta 54, quando Kevin Magnussen (Haas), calculando mal uma trajetória, chocou contra um muro e perdeu um pneu, que ficou esquecido algures na pista. A incerteza voltou então ao circuito de Melbourne. Mais ainda quando foi içada a bandeira vermelha a três voltas do fim, obrigando a nova saída de pista e formação na grelha. Afinal, Max Verstappen não tinha exibido grande andamento nos dois arranques anteriores…

Uma das restantes três voltas foi gasta atrás do mercedes vermelho, o safety car. A tensão nas boxes sentia-se e podia comer-se às colheradas. E o que pertence às histórias fabulosas aconteceu mesmo: Fernando Alonso foi tocado por Sainz (penalizado em 5 segundos) e saltou fora do asfalto, um exemplo que seguiria o companheiro de equipa, Stroll, travando tarde demais. Os Alpine engalfinharam-se terrivelmente e abandonaram. Ergueu-se mais uma bandeira vermelha. Na box da Mercedes, Kelly Slater, o mítico surfista, trocava umas palavras com Hamilton, uma tranquilidade a poucos minutos da hora da verdade que impressionava.

Robert Cianflone

O recomeço foi feito noutros moldes, atrás do safety car, o que a uma volta do fim da corrida significava que tudo terminaria como estava. Ou seja, tanta espera tratou-se apenas de uma formalidade. Ou seja, quase 2h30 depois, testemunhou-se a mais uma vitória para Max, o regresso de Hamilton às andanças perto da glória e o 101.º pódio (sem contar com vitórias) para Alonso, que também ficou na terceira posição nas duas corridas anteriores.

“Foi uma montanha russa de emoções”, admitiu depois da corrida o piloto espanhol. “Aconteceram muitas coisas no início e no fim também. Foi difícil perceber o que estava a acontecer. A corrida foi boa para nós em termos de velocidade. Aceitamos o resultado.”

E acrescentou: “A primeira bandeira vermelha ajudou-nos. A segunda provavelmente não nos ajudou. Tivemos sorte outra vez, tivemos outra oportunidade depois. As posições 3 e 4 para a equipa são incríveis”, revelou, mencionando a seguir que, após três pódios, deseja subir nessa escadaria.

Já Lewis Hamilton mostrou-se muitíssimo satisfeito com o segundo lugar e lamentou o azar do colega, George Russell. “Esta cidade continua a dar-nos um grande show. Obter estes pontos foi incrível, não esperava ficar em segundo. Estou muito agradecido.”

Questionado por Coulthard sobre o carro, as queixas habituais: “Ainda me sinto desconfortável com o carro, não me sinto conectado. Estou a conduzir o melhor que consigo, estou a trabalhar o máximo que posso para criar essa conexão. Estarmos a lutar com esses padrões da Red Bull é incrível. Nós podemos encurtar a distância para eles, é possível. (...) Termos três campeões do mundo no top-3 é incrível.”

A Fórmula 1 regressa no fim de semana de 28-30 de abril no Azerbaijão.