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“O Lewis tem pouca memória, está a ficar velho”: Alonso, Hamilton e mais um capítulo do azedume eterno inaugurado em 2007

O piloto espanhol, com dois pódios conquistados em duas corridas em 2023, discordou do heptacampeão mundial sobre o domínio jamais visto dos Red Bull. “Na Arábia Saudita terminei a 20 segundos do Checo [Pérez] e do Max. O Lewis e o Rosberg ficavam a um minuto de todos em 2014 e 2015. Depois de duas ou três voltas, protegiam os motores”, recordou em entrevista ao L’Équipe. Esta é a história dos desaforos e de como o destino de ambos se entrelaçou

Hugo Tavares da Silva

Hamilton e Alonso em 2015

Clive Mason

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Nos últimos dias de novembro de 2006, um jovem virtuoso foi anunciado como piloto da McLaren para a temporada seguinte de Fórmula 1. O prodígio, que se tornava no primeiro piloto negro do paddock e que ganhara a corrida a Pedro de la Rosa, era Lewis Hamilton.

Depois de todas as palavras de circunstância e de alegria honesta, o britânico soltou uma última ideia: “Sei que haverá muita atenção em mim, no entanto, a equipa disse-me para relaxar, fazer o melhor que posso e desfrutar da oportunidade. Vou trabalhar arduamente para obter resultados”. Um imberbe mago do volante chegou a uma box onde aterrara também o bicampeão do mundo pela Renault, Fernando Alonso.

Rezam os artigos da imprensa que a relação entre ambos foi-se tornando amarga com o passar dos tempos. Bastou a primeira curva em Melbourne e o atrevimento de Hamilton, na verdade, para o azedume começar a vestir a farda. Por altura do “Spygate”, em julho de 2007, o espanhol já suspeitava que o seu companheiro de equipa era o preferido dos cartolas. Em 2022, um antigo mecânico da McLaren denunciou que o staff de Alonso entregava envelopes com dinheiro aos elementos da equipa para os ir puxando para o seu lado.

Paul Gilham

Muitos anos depois, aquela trica não estava esquecida. Alonso comentou que alguns dos sete títulos de Hamilton não tinham assim tanto valor porque os conseguira lutando apenas contra os companheiros de equipa. O britânico da Mercedes, umas horas volvidas, publicou uma fotografia de ambos em 2007, no pódio do GP dos Estados Unidos, com Hamilton em primeiro e Alonso em segundo. Talvez magicando uma metáfora de como se desenvolveu o estatuto de ambos na F1.

Antes dessas palavras, já com Fernando Alonso de regresso à Fórmula 1, uma tentativa de ultrapassagem do heptacampeão do mundo, no GP da Bélgica, provocou um acidente entre ambos. “Que idiota. Só sabe correr quando sai do primeiro lugar”, desabafou o espanhol, via rádio. Lewis Hamilton assumiu a responsabilidade, mas não deixou de aproveitar para sinalizar algo. “Sei como as coisas são no calor do momento. É bom saber como ele se sente em relação a mim. É bom que ele possa abrir-se. Não foi intencional e assumo a responsabilidade por isso, é que os adultos fazem”, declarou, recusando pedir desculpa ao ex-companheiro que na altura estava na Alpine. “Eu ia fazer isso [conversar com ele], até que ouvi o que ele disse…”

É caso para dizer que nada mudou. Agora na surpreendente Aston Martin e já depois de dois pódios em duas corridas, Fernando Alonso conquistou o melhor tempo no segundo dia de treinos livres (com chuva), na Austrália. E deu-se um novo regresso ao azedume do passado.

Na semana passada, o piloto britânico defendeu que os Red Bull RB19, as bestas que Max Verstappen e Sergio Pérez conduzem, eram o carro mais veloz e dominante que viu na F1. Alonso, em entrevista ao “L´Équipe”, discordou. “Na Arábia Saudita terminei a 20 segundos do Checo [Pérez] e do Max. Ele [Hamilton] e o [Nico] Rosberg ficavam a um minuto de todos em 2014 e 2015. Depois de duas ou três voltas, protegiam os motores”, explicou em entrevista ao diário francês. “Ele tem pouca memória, está a ficar velho…”

Bryn Lennon - Formula 1

O piloto espanhol, de 41 anos, celebrou a decisão de se mudar para a Aston Martin, um tiro certeiro que compara às idas para a Ferrari e Toyota (Le Mans). “Na Aston Martin esperava um carro competitivo num ou dois anos, mas estar assim em seis meses é genial”, admitiu.

Sobre o sinuoso caminho que teve de antecipar ou contornar para uma adaptação mais rápida ao carro, detalhou: “Estava preparado, estudei os problemas do [Daniel] Ricciardo quando deixou a Red Bull pela Renault. Falei à equipa do meu estilo de condução, da coluna da direção e da direção assistida”, contou.

E acrescentou: “Trabalhámos em várias ideias desde janeiro e preparámo-nos no simulador. Num carro com boa aerodinâmica posso fazer voltas rápidas. É incrível ter um carro capaz de lutar pelo pódio. [Para ganhar] necessitarei da ajuda dos Red Bull, um acidente ou uma avaria, mas continuaremos a ser competitivos. Nunca teria imaginado isto há três meses”.

A corrida deste fim de semana é só para madrugadores. A qualificação do Grande Prémio da Austrália está agendada para 6h da manhã. A corrida será à mesma hora no domingo (Sport TV4).