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Ainda a ressaca do GP do Bahrain: Hamilton diz que a Mercedes não o ouviu, chefe de equipa da Aston Martin não quer “guerras de palavras”

Lewis Hamilton, sete vezes campeão do mundo de Fórmula 1, revelou que o seu quinto lugar no Grande Prémio do Bahrain se trata de uma “ilusão” e que este “não é o carro certo”. Já Mike Krack, chefe de equipa da Aston Martin, elogiou imensamente Fernando Alonso e recusou entrar no debate sobre parecenças entre os monologares AMR23 e RB19: “Tivemos um bom resultado, melhorámos o nosso carro. Mas sejamos respeitosos e humildes e vejamos como evolui a temporada”

Hugo Tavares da Silva

Eric Alonso

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A andadura e o desfecho do Grande Prémio do Bahrain foram uma daquelas coisas mais temidos por quem saliva que o circo da Fórmula 1 seja imprevisível e fogueteiro. A Red Bull, principalmente o monolugar do bicampeão do mundo, passeou-se pelo asfalto e garantiu a primeira dobradinha da temporada.

Essa é a versão reduzida da história de mais uma tarde gloriosa para o neerlandês que promete atacar o tricampeoanto sem qualquer pudor e hesitação. O resto fala de um colossal Fernando Alonso, de regresso a um pódio no seu Aston Martin, que tem gerado o maior falatório de todos por supostamente ter semelhanças com os campeões de construtores. Sergio Pérez, no rescaldo da corrida, disse aliás que era bom ver três carros Red Bull no pódio. Foi uma facada que não caiu muito bem na Aston Martin, que conta agora com Dan Fallows, um ex-Red Bull com uma boa memória, como já se vai dizendo para os lados austríacos.

Voltemos a domingo. Lance Stroll, o colega de Alonso, teve também um desempenho especial, com um sexto lugar, depois de ter perdido os testes de pré-época devido a fraturas nos pulsos no seguimento de um acidente de bicicleta. No início da corrida, um toque de Stroll a Alonso poderia ter deitado tudo a perder, mas não houve consequências. O jovem piloto admitiu depois que essa manobra e esses momentos fizeram os seus pulsos ficar a arder e algumas lágrimas cair.

Se Charles Leclerc viu o seu Ferrari a deixá-lo na mão outra vez, o que não é propriamente uma novidade, a expectativa estava sobre a máquina em que Lewis Hamilton se enfiara. O sete vezes campeão de F1 não teve hipótese de competir realmente em 2022, pelo que havia algum entusiasmo para saber como o britânico ia responder ao bicampeonato de Verstappen.

E as coisas não correram bem, apesar do quinto lugar, “uma ilusão”, segundo o próprio. O piloto inglês, de 38 anos, acusou a Mercedes de “não ouvir” o que ele tinha para dizer sobre o monolugar. Hamilton – que ficou atrás dos Red Bull, de Carlos Sainz (Ferrari) e do Aston Martin de Alonso – voltou a criticar publicamente a equipa, garantindo que este “não é o carro certo”, sugerindo que tem problemas.

NurPhoto

“No ano passado, houve coisas que lhes disse”, comentou o piloto num podcast da BBC. “Eu disse-lhes os problemas que o carro tinha. Eu conduzi tantos carros na minha vida. Eu sei o que o carro precisa. Eu sei o que o carro não precisa.”

E continuou: “Eu acho que isto é realmente sobre accountability [prestar contas, responsabilidade]. Trata-se de dizerem: ‘Sabes que mais? Não te ouvimos. Não estamos onde precisávamos de estar e temos de trabalhar’. Temos de olhar para o equilíbrio nas curvas, ver os pontos fracos e juntarmo-nos como uma equipa. É o que fazemos. (...) Não acertámos desta vez, não acertámos no ano passado. Mas isso não significa que não possamos acertar daqui para a frente.

"Não entramos em guerra de palavras"

O chefe de equipa da sensacional Aston Martin elogiou enormemente a prestação de Fernando Alonso. Mike Krack elogiou ainda o novo AMR23, o tal comparado com o Red Bull, e explicou o que aconteceu nos últimos tempos e mais exatamente no domingo.

“Não sabíamos onde estávamos, nos testes nunca se sabe o que faz cada um. Focámo-nos em nós, fizemos o nosso trabalho”, disse nas últimas horas. “Foi muito importante não sair da classificação e na corrida tínhamos um plano em marcha. Não queríamos deixar levar-nos pelos que paravam muito cedo, sabíamos que tínhamos vantagem nos pneus. E queríamos dar espetáculo na pista e não fora dela.”

Apesar de um domingo mágico, Krack deixou um aviso à tripulação: “Temos de manter os pés no chão. Sabíamos que não éramos maus e que teríamos um bom ritmo, mas não sonhávamos com o pódio. Centrámo-nos no nosso trabalho”. O chefe de equipa da Aston Martin lembrou que o abandono de Charles Leclerc acabou por beneficiar os seus pilotos. “Não nos devemos esquecer disso.”

A seguir, mais um alerta: “Tivemos um bom resultado, melhorámos o nosso carro. Mas sejamos respeitosos e humildes e vejamos como evolui a temporada. Não entramos em guerra de palavras”, atirou, numa alusão ao que disse Sergio Pérez relativamente às parecenças com o RB19.

A Fórmula 1, a velocidade e os problemas técnicos, os desabafos e a picardia, regressam no fim de semana de 17 e 19 de março, na Arábia Saudita.

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