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Fórmula 1

GP São Paulo. E eis que a chuva e um acidente deram a Kevin Magnussen e à Haas a primeira pole da sua história

O impensável tende a acontecer na Fórmula 1 quando à imprevisibilidade do tempo se juntam erros humanos e foi neste caldeirão que o dinamarquês, a pilotar um dos carros mais frágeis da grelha, conquistou a sua primeira pole position. Será o primeiro no sábado, na corrida de sprint

Lídia Paralta Gomes

Mario Renzi - Formula 1/Getty

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É daquelas coisas que não se pode nunca dizer. Que uma das equipas do fundo da tabela da Fórmula 1 não pode ser pole position na Fórmula 1, não pode arrancar uma surpresa, um momento inesperado numa disciplina que tantos acusam de, por vezes, ser enfadonha.

Porque o céu não pede licença para estar bem comportado a toda a hora, ainda para mais em São Paulo. E se o tempo meteorológico até se pode prever, há tecnologia para pelo menos dar-nos uma ideia, o que não dá para sacar da bola de cristal são os erros humanos, a extemporaneidade de um despiste, naqueles milésimos de segundo em que as mãos e os pés perdem o controlo do carro.

E quando tudo isto acontece ao mesmo tempo, nessa explosão cósmica, é aí que acontecem as surpresas. Como aquela de termos Kevin Magnussen a roubar uma pole position histórica, a sua primeira na Fórmula 1, a primeira de um dinamarquês, a primeira da frágil Haas, que no início do ano foi obrigada a chamar de volta o nórdico depois de despedir Nikita Mazepin, abdicando do dinheiro russo com o estopim da guerra na Ucrânia.

Ver Magnussen no sábado na frente da grelha para a corrida de sprint precisou de uma confluência de fenómenos: o dinamarquês teve a perspicácia de sair cedo para a pista na Q3 e marcou o melhor tempo da sessão logo no início. Pouco depois, George Russell foi pista fora e na tentativa de regresso enterrou o Mercedes na gravilha. A bandeira vermelha era necessária para a entrada de uma grua.

Isto não seria um problema de maior se os céus de São Paulo não tivessem os seus humores. A chuva foi aparecendo e desaparecendo à mesma velocidade durante a qualificação e voltou a dar um ar de si precisamente quando a pista estava livre para recomeçar a sessão. Problema (ou benção, depende da perspectiva): com o piso molhado, já ninguém iria conseguir melhorar o tempo de Magnussen, feito ainda com o asfalto seco.

E assim chega uma das surpresas da temporada. Magnussen, que coloca a Dinamarca como o 24.º país a conquistar uma pole, terá Max Verstappen ao lado e George Russell, causador de toda esta baderna, ficou com o 3.º tempo. Curiosamente, o último da grelha será o colega de equipa de Magnussen, Mick Schumacher. Azar também para Charles Leclerc (Ferrari), ou mais um, digamos assim, que não conseguiu marcar qualquer tempo antes da bandeira vermelha. Partirá, assim, de 10.º.

O GP São Paulo é um dos que esta temporada comporta também uma corrida sprint, a disputar no sábado, com a grelha da corrida de domingo a ser definida pelos resultados da véspera. Ciente que dificilmente conseguirá travar carros mais fortes, Kevin Magnussen, muitas vezes acusado de bad boy, chorou na entrevista rápida à Fórmula 1 logo após o fim de sessão, prometendo, quanto mais não seja, “máximo ataque”.

“Vamos tentar algo engraçado”, disse, ainda incrédulo. “Não sei o que dizer, a equipa colocou-me na pista no momento certo”, frisou, agradecendo às chefias da Haas, nomeadamente a Gene Haas, dono da equipa, e ao mítico Gunther Steiner, o chefe da escuderia e uma das estrelas da série documental “Drive to Survive”.

E esta sexta-feira em Interlagos vai dar, seguramente, um grande episódio na próxima temporada.