Fernando Alonso reagiu a quente ao impacto madrugador do Mercedes de Lewis Hamilton no seu Alpine. Foi uma disputa que acabou mal, não mais do que isso, consideraram os comissários de corrida que avaliaram o caso, mas o heptacampeão do mundo foi o claro culpado pelo choque que o pôs fora do GP Bélgica na primeira volta.
Alonso não perdoou o antigo companheiro de equipa. Através da comunicação via rádio com a sua equipa, o espanhol disse: “Que idiota. Só sabe pilotar se começar da primeira posição da grelha”.
A disputa entre dois dos mais veteranos da grelha parece não ter acabado na gravilha de Spa-Francorchamps. Depois de ouvir as palavras de Alonso, Hamilton não resistiu a dizer: “É bom saber o que ele sente acerca de mim”. O inglês não rejeitou a responsabilidade pelo embate e afirmou que teria conversado com Alonso sobre isso “até ter ouvido” o que o asturiano disse.
A corrida até teve poucos momentos “quentes”, mesmo com a excecional recuperação de Max Verstappen, que partiu de 14º e terminou em 1º, com muito pouca oposição nas ultrapassagens que foi fazendo. Mas a Fórmula 1 vive dos encontros mais do que dos desencontros entre os chassis dos monolugares. Por vezes, a fúria dos pilotos vem ao de cima, quando se julgam vítimas da ousadia do rival. Hamilton admitiu-o sobre Alonso: “Eu sei que é assim que nos sentimos no calor do momento. (…) A culpa foi definitivamente minha. Não deixei espaço suficiente. Não foi intencional. Apenas aconteceu”. Mas o inglês mostrou-se novamente agastado com as palavras do espanhol.
No fim da corrida, questionado acerca da mensagem de rádio, Alonso recusou recuar nas críticas. O espanhol afirmou-se “muito desiludido”.
“Quando começas bem, na primeira ou segunda linha, estas coisas acontecem e é claro que me sinto frustrado no momento. Ele aceitou o erro. (…) Para mim, foi um erro ‘fechar a porta’ na curva cinco. Penso que ele achou que eu já não estava ali. (…) É apenas o calor do momento. (…) Mas não sei. Normalmente tenho mais cuidado”, sublinhou.
A alegação de que Hamilton só sabe pilotar quando sai do primeiro lugar pode ter sido fruto do momento, mas o não recuo na acusação surpreendeu pela falta de rigor. O inglês fez algumas das maiores recuperações de sempre na F1. Tal como Max Verstappen na Bélgica, no Grande Prémio da Alemanha de 2018, o britânico largou do 14º posto e acabou no lugar mais alto do pódio.
Mas as oscilações de relacionamento com Fernando Alonso são antigas e não se resumem ao incidente do passado domingo. É uma década e meia de lutas intensas, que não impedem a reciprocidade dos elogios. Na primeira temporada de Hamilton na F1, ao volante de um McLaren-Mercedes, o então jovem promissor encontrou um já consagrado bicampeão do Mundo como companheiro de equipa. Nesse ano de 2007, Lewis Hamilton e Fernando Alonso lutaram pelo título com Kimi Raikkonen, que levou a melhor no seu Ferrari, por apenas um ponto. Mas os dois pilotos da McLaren terminaram o ano empatados em pontos e vitórias – quatro cada. A rivalidade – e talvez a incapacidade de lidar com os resultados do debutante ao seu lado – levou a que Alonso deixasse a equipa inglesa logo no final do primeiro daquele que deveria ter sido um casamento de pelo menos três anos.
Nos últimos anos, a relação tem amornado. Hamilton tem frequentemente falado de Alonso como o piloto mais talentoso e rápido que alguma vez enfrentou. O espanhol tem também tecido rasgados elogios ao talento do adversário. O incidente em Spa-Francorchamps pode ter vindo reacender uma rivalidade indesejada, ainda para mais com o Grande Prémio dos Países Baixos a acontecer já no próximo fim de semana.