Vestir-se de branco e jogar ténis no All England Club é como entrar numa espécie de santuário da modalidade, de palco sagrado em que cada pedaço de relva respira história, misticismo e lenda. É nesta dimensão mágica que Rafa Nadal não está desde 2019.
Em 2020, a pandemia da covid-19 levou a que o torneio de Wimbledon não se disputasse, e em 2021 o tenista espanhol optou por não jogar em Londres devido aos problemas físicos no seu pé esquerdo. Vencedor do major britânico em 2008 e 2010, nas semanas anteriores ao começo da competição, agendado para segunda-feira (dia 27), a especulação em torno da presença de Nadal intensificou-se.
Na semana passada, o balear dissipou as dúvidas e disse que viajaria para Londres para "tentar" disputar Wimbledon, dado que o tratamento à sua lesão estava a evoluir favoravelmente. Já em solo britânico, e depois de seis dias de treino na relva — superfície em que não compete oficialmente há três anos —, Nadal mostrou-se otimista e "feliz".
"Se estou aqui é porque as coisas estão a correr bem, caso contrário não estaria cá", atirou o jogador, que disputou dois embates de exibição em Hurlingham. Ainda assim, Rafa diz ser "difícil prever" como é que "realmente está sob o ponto de vista físico".
Nadal mostra-se feliz por "andar de maneira normal todos os dias", acordando sem sofrer "as dores que teve no último ano e meio", o que o leva a ser "otimista" para o torneio. Apesar de indicar que a relva é uma "superfície complicada", na qual é "preciso passar tempo" — algo que o espanhol não fez nos últimos três anos —, o antigo vencedor de Wimbledon acreditar estar numa "linha de forma ascendente".
Na sessão de treino antes de falar com a imprensa, Nadal teve um espetador bastante conhecido. Gerard Piqué, defesa do Barcelona e patrão da Taça Davis, seguiu, com os seus dois filhos, os trabalhos do compatriota, com quem falou após o final do treino. No court, Nadal utilizou os óculos de sol do seu fisioterapeuta Rafael Maymò, porque se "levantou com os olhos cansados", explicou.
John Walton - PA Images/Getty
Nadal chega a Wimbledon depois de, pela primeira vez numa temporada, ter conquistado o Open da Austrália e Roland-Garros. O objetivo de vencer o Grand Slam, arrebatando os quatro majors do ano, é possível e até Carlos Moyá, o seu treinador, já o abordou.
Em 2021, Novak Djokovic acariciou essa proeza, perdendo na final do US Open contra Daniil Medvedev depois de ganhar na Austrália, Roland-Garros e Wimbledon. No ténis masculino, ninguém consegue o Grand Slam desde Rod Laver, em 1969 — no feminino, Steffi Graf logrou-o em 1988.
Numa edição de Wimbledon que não contará com os dois primeiros da hierarquia mundial — Daniil Medvedev está ausente devido à proibição imposta aos tenistas russos e bielorrussos e Alexander Zverev está lesionado —, Nadal falou das especificidades que a bola "muito pesada" irá impor. O balear considera que a bola é "mais oca que há 10 anos", o que, para si, é "um erro" porque "jogam-se todos os pontos da mesma forma": "Bate-se na bola de qualquer lado porque não há sensação de erro. Aqui essa sensação multiplica-se", opinou.
O último encontro de Rafa Nadal em Wimbledon foi nas meias-finais de 2019, quando perdeu contra Roger Federer. O regresso será terça-feira, dia 28, contra o argentino Francisco Cerundolo, número 42 do ranking ATP.