Final da Champions. Autoridades francesas acusadas de “velhos preconceitos” ao culparem os adeptos do Liverpool pelos incidentes
Charlotte Wilson/Offside
Grupo de adeptos europeu considera que governo francês, país que organizará o Mundial de Raguêbi em 2023 e os Jogos Olímpicos de 2024, atribuiu culpas aos adeptos ingleses para obter “ganhos políticos”. UEFA, autoridades de Paris, polícia, organização da final e Federação Francesa reunir-se-ão para retirar conclusões sobre o sucedido
Os incidentes que marcaram a final da Liga dos Campeões entre Liverpool e Real Madrid, em Paris, estão a gerar trocas de acusações e pedidos de responsabilização entre autoridades francesas, adeptos espanhóis e ingleses e media dos três países. À espera da reunião que sucederá segunda-feira entre a UEFA, as autoridades parisienses, a polícia, a organização da final e a Federação Francesa de Futebol, da qual sairá um relatório sobre o ocorrido, as diferentes partes vão esgrimindo argumentos.
Um dos primeiros a posicionar-se foi Gérald Darmanin, ministro do Interior Francês, que na noite da partida escreveu, no Twitter, que “milhares de ‘adeptos’ britânicos, sem bilhetes ou com bilhetes contrafeitos, forçaram a entrada e agrediram stewards”, colocando assim a culpa do lado dos adeptos do Liverpool. Esta mensagem do governante segue a linha com a postura da UEFA, que mencionou, em comunicado, que “os torniquetes no lado do Liverpool foram bloqueados por centenas de adeptos que tinham comprado bilhetes falsos que não funcionavam”.
Segundo o “Le Monde”, 238 pessoas foram assistidas, no local, por serviços de emergência, tendo 105 cidadãos sido detidos. Aos microfones da “RTL”, a Ministra do Desporto de França, Amélie Oudéa-Castéra, também apontou o dedo aos adeptos do Liverpool, já que havia “30.000 ou 40.000 sem bilhete ou com bilhetes falsos” que tentavam entrar no Stade de France, o que “criou uma pressão excecional sobre os serviços de segurança”. A ministra também critica que os responsáveis dos reds tenham “deixado os seus adeptos à solta”, o que contrasta com a “supervisão” feita pelo Real Madrid aos seus fãs.
Nas últimas horas, tem sido recordado que França irá organizar o Mundial de Raguêbi, em 2023, e Paris os Jogos Olímpicos de verão, em 2024. No entanto, Amélie Oudéa-Castéra assegurou ainda que França “é capaz de organizar grandes eventos desportivos”, possuindo “experiência profunda” neste tipo de acontecimentos.
No play-off entre o Saint-Étienne e o Auxerre, que garantia uma vaga na Ligue 1 da próxima temporada, adeptos do Saint-Étienne, após a derrota da equipa, invadiram o estádio Geoffroy-Guichard, lançando objetos pirotécnicos na direção dos jogadores, do túnel de acesso e da bancada presidencial, tendo os incidentes continuado no exterior do recinto de jogo. Segundo as autoridades, pelo menos 17 adeptos, dois jogadores do Auxerre e 14 polícias ficaram ligeiramente feridos.
A Ministria do Desporto de França rejeitou “ligações” entre ambos os casos, já que se tratam de “problemas diferentes”. “Em Saint-Denis foi um problema de bilhetes falsos. Em Saint-Étienne foi a insatisfação de adeptos dececionados que gerou incidentes dentro e fora do estádio”, disse Amélie Oudéa-Castéra.
A Football Supporters Europe, uma associação de adeptos presente nas 55 federações-membro da UEFA, recusa as culpas atribuídas pela UEFA. “É um velho e barato preconceito contra adeptos do Liverpool, usado para obter ganhos políticos por parte do governo francês”, considerou, citado pelo “Independent”, Ronan Evain, diretor-executivo da organização.
Do lado do Liverpool, o dedo é apontado ao tratamento de que os adeptos foram alvos. Billy Hogan, diretor-executivo do clube, considerou que os adeptos dos reds foram alvo de tratamento “inaceitável” por parte das autoridades e pediu uma “investigação transparente” da UEFA”.
Andy Robertson, jogador da equipa de Klopp, acusou, após a final, a UEFA de “estragado tudo” no “jogo mais importante do futebol mundial". O escocês revelou que um dos seus amigos tinha “bilhetes legítimos”, mas foi-lhe dito que estes eram falsos. “A UEFA deveria ter tido uma organização melhor”, sentenciou Robertson.
O “Independent” relatou vários casos como o descrito pelo lateral do Liverpool, com adeptos com bilhetes verdadeiros a ficarem de fora do Stade de France e a levaram com gás lacrimogéneo. Também de Espanha chegam relatos de fãs do Real Madrid que se queixam de roubo, extorsão e impossibilidade de entrar no recinto da final, apesar de possuírem ingressos válidos.
Nadine Dorries, ministra britânica com as pastas do Digital, Cultura, Media e Desporto, pediu que a UEFA “realizasse uma investigação formal”. “As imagens e relatos dos adeptos do Liverpool e dos media na entrada do Stade de France são profundamente perturbadoras”, lamentou a governante.